2004-09-27
MEDICAMENTO PARA O MEDICAMENTO. Terminou na sexta-feira passada a semana que a presidência da república dedicou à saúde. No dia seguinte, sábado, o Jornal de Notícias deu destaque na sua primeira página ao consumo de medicamentos. Em letras gordas títulou "6500 delegados acompanham 6000 médicos". O jornal baseou-se em discurso do Ministro da Saúde que "responzabiliza marketing das farmacêuticas por fazer disparar a despesa" com medicamentos em qualquer coisa como 11 por cento. Em si, trata-s de algo que não é novo em Portugal. Há já muito tempo que se sabia que o país tem um conumo de medicamentos excessivo. Humoristicamente poderia até argumentar-se que um país doente como este bem precisa de medicamentos que o curem, mas a verdade é que há medicamentos que de tanto se consumirem põem em causa a própria saúde pública, colocando em causa os próprios fins para que são desenvolvidos. Também não vale a pena esconder que a pressão da indústria farmacêutica junto dos prescritores é tão forte que frequentemente ultrapassa o que é tolerável. Neste sentido, é legitimo afirmar que o papel do marketing chega a ser desvirtuado ao ponto de possuir um efeito nocivo, não só para a sociedade como um todo, mas também para o consumidor individual. Basta acompanhar minimamente o sector para se saber que existem empresas com práticas inaceitáveis; enfim, um bom exemplo para ilustrar a má utilização do marketing. Acontece que este problema, sendo grave, já não é o principal problema pois não é de esperar que estas empresas passem a adoptar uma postura ética e socialmente responsável. O que na verdade é tão ou mais preocupante é que um sector (a saúde) e uma profissão (a dos médicos) tão regulados não tenham ainda encontrado as medidas necessárias para resolver este problema. Houvesse vontade e algumas medidas simples ajudariam a contornar o problema do excesso de consumo de medicamentos. Não o fazendo, Estado e Ordem dos Médicos ficam a um nível de comportamento ético ainda mais deplorável do que muitas empresas farmacêuticas.