2003-08-26

APRENDIZAGEM POR RELACIONAMENTO

A aprendizagem organizacional é dos temas de gestão mais quentes da actualidade. O despertar da atenção pela sua importância verifica-se a partir do momento que constatamos que o conhecimento constitui uma inegável fonte de vantagem. Porque será o conhecimento e a aprendizagem importante nas organizações contemporâneas? Como aumentar o depósito organizacional de conhecimento? Qual o papel das relações para aumentar esse depósito?

Se entendermos a organização como um vasto conjunto de recursos, também o conhecimento adquirido pela organização é um recurso. O conhecimento não é só um recurso em empresas de base tecnológica como as da indústria farmacêutica ou biotecnologia. Na verdade, o conhecimento há-de ser sempre um recurso, por mais tradicional ou menos tecnologicamente intensiva que seja a organização. Por exemplo, numa empresa têxtil com de mão de obra intensiva, há-de haver sempre necessidade de aprofundar conhecimentos sobre métodos de produção, produtos ou mercados.

A capacidade de absorver conhecimento é fundamental na fluidez da aprendizagem e no aumento do depósito organizacional. Por capacidade de absorção entende-se a habilidade que uma organização possui para reconhecer a importância e valor de novos conhecimentos, assimilar esses conhecimentos e aplicá-los com determinados fins.

No nosso entender existem basicamente três métodos de aprendizagem organizacional – passivo, activo e interactivo – que permitem adquirir novos conhecimentos. O primeiro ocorre quando existe uma abordagem reactiva na procura do conhecimento. Quando nos socorremos de revistas, jornais ou seminários para aumentar o nosso depósito de conhecimentos estamos, na maior parte dos casos, a aprender de forma passiva. Por exemplo, o leitor desprevenido deste artigo está, neste preciso momento, a aplicar um método passivo de aprendizagem.

No caso da aprendizagem activa existe uma atitude pro-activa. Se, por exemplo, o leitor entender consultar www.empreender.blogspot.com procurando aumentar o seu depósito de conhecimentos em gestão, então estaremos perante um método activo de aprendizagem.

Em termos organizacionais, a diferença entre os dois métodos é ainda mais evidente do que o anterior exemplo sugere. Enquanto que a atitude passiva implica, por exemplo, assinar algumas publicações já o método activo requer procura sistematizada.

Por exemplo, os gestores duma agência de viagens podem prosseguir uma estratégia baseada na leitura de relatórios, revistas ou estudos de mercado de forma pontual nos seus tempos livres ou, alternativamente, podem utilizar esses repositórios de informação como instrumentos de um sistema de informação visando, entre outros objectivos, analisar a concorrência ou tendências de consumo.

O terceiro método referido envolve interactividade através de relações. Ele distingue-se dos dois anteriores pelo simples (mas importante) facto de que o conhecimento que a organização procura não é facilmente observável, nem tão pouco está disponível numa única fonte. Ou seja, através da interactividade com diferentes fontes de conhecimento, a organização aprendiz desenvolve conhecimento. Este método exige capacidade de gerir relações, precisamente pelo facto de que a organização deve estar em interactividade com várias fontes de conhecimento.

Quando, por exemplo, um conjunto de empresas partilham um parque tecnológico, gera-se um ambiente de aprendizagem interactiva. O caso de um núcleo de empresas criadas à volta de uma universidade é disso um outro bom exemplo. O simples facto das empresas estarem localizadas próximas umas das outras num ambiente aberto à inovação favorece uma aprendizagem colectiva, largamente baseada na cooperação e partilha de experiências.

As relações são assim um mecanismo precioso para aprender e acumular conhecimento. Através de redes organizacionais que envolvam clientes, fornecedores, concorrentes e outros parceiros, a organização deve ser capaz de aprender da mesma forma que consegue transaccionar produtos e serviços.

Referência original: Eiriz, Vasco (2003), "Aprendizagem por relacionamento", Jornal de Notícias (5 de Agosto), p. 17 (colaboração com a Ordem dos Economistas).
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