2003-09-23
PEÇAS DE TEATRO. Em tempos teve lugar em Espanha um encontro de gente do teatro. O inédito do encontro é que as companhias não se juntaram para apresentar a suas últimas criações ou discutir tendências estéticas mas sim para "analisar questões de distribuição, económicas, legais e suas relações com as administrações" ("administrações" é uma tradução demasiado literal que se refere basicamente ao governo central, governos regionais e autarquias locais). É certo que o Congresso de Empresas de Teatro da Andaluzia, assim chamado, só reuniu operadores privados e nestas alturas a questão do financiamento público tende a dominar a discussão. Mas também não é menos relevante que na ordem de trabalhos tenham estado questões como a distribuição, apesar de, na hora da verdade, o essencial se reduzir ao debate dos financiamentos. Nas sociedades economicamente desenvolvidas em que a órbita do ócio cada vez mais se confunde com a do trabalho (vejam-se fenómenos como o teletrabalho, flexibilidade de horários ou, porque não, os blogues) cabe aos produtores e distribuidores de bens de entretenimento – sejam eles companhias de teatro, empresas de comunicação social, produtores de conteúdos – equacionar essa realidade e levar o debate além de questões imediatas como a dos financiamentos públicos, a exclusividade dos canais de distribuição ou a imutabilidade das concessões públicas. Significa isto que por mais honestos que sejam tais debates eles pecarão sempre por defeito se problemas de outra dimensão como as grandes tendências de consumo no mercado de entretenimento não forem também elas equacionadas.