2003-11-07

APOLÍTICOS DISFARÇADOS. O facto resume-se a poucas palavras. Em Dezembro de 1999 a comissão directiva da Greenspeace nomeou o seu presidente. Não tinha ainda acabado Janeiro do ano seguinte e já o indigitado presidente da organização não governamental (ONG) tinha sido obrigado a demitir-se porque não tinha renunciado ao cargo de eurodeputado, ao que parece algo de incompatível no seio da Greenspeace. O homem lá saiu e depressa tornou as coisas claras. No seu entender, em declarações prestadas a El País, "as ONG importam algumas das piores características do mundo da política: alimentam cúpulas que geram interesses próprios, medo à mudança, apego ao modus vivendi, tendência ao conservadorismo". Ou seja, nas "cúpulas das ONG há alergia aos políticos". O episódio é duma riqueza avassaladora e ilustra o óbvio. Nem mesmo os apolíticos estão livres da dimensão política que a sua acção de uma forma ou de outra terá sempre. Por vezes, são mesmo aqueles que se proclamam mais apolíticos que mais comportamento político exercem. E, naturalmente, exercem-no utilizando estruturas de poder em proveito próprio individual ou colectivo, de forma legítima ou ilegítima, com maior ou menor dinamismo. O comportamento político é assim comum a todas as organizações, incluindo mesmo aquelas cujos membros tendem a ver esse comportamento como indesejável. Ele verifica-se em todo o tipo de organizações e estar consciente da sua existência é o primeiro passo para o compreender.
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