2003-12-12

INFORMAÇÃO E COMPETITIVIDADE
Por Vasco Eiriz

Num contexto competitivo em que os factores intangíveis da competitividade adquirem uma importância crescente, tem sido destacado o papel da informação como elemento omnipresente na estratégia de uma organização. É através dela que a organização se relaciona com o seu ambiente, interpreta as necessidades e características do mercado, adquire conhecimentos, fomenta competências e publicita a sua oferta.

A informação pode constituir-se assim como um recurso precioso ao serviço duma organização. Compete ao sistema de informação da organização gerir esse recurso, identificando os dados necessários, procurando fontes de recolha de dados, recolhendo e tratando dados e utilizando e arquivando informação com proveito para a organização.

De acordo com Kotler, um dos autores mais populares de marketing, “um sistema de informação de marketing (SIM) pode ser definido como uma estrutura interactiva, contínua e orientada para o futuro, constituída por pessoas, equipamentos e procedimentos desenhados para gerir e processar um fluxo de informação de modo a ajudar o processo de tomada de decisões, na formulação do plano de marketing da empresa”.

A arquitectura de um SIM deve partir da ideia que os negócios se desenvolvem em dois palcos completamente distintos, mas complementares. Num dos palcos, as organizações movem-se num mundo de recursos físicos, tangíveis. No outro palco, os gestores actuam num mundo virtual, constituído por informação. Nestes dois mundos, os processos de criação de valor são diferentes.

Cada vez mais, o sucesso depende da capacidade que as organizações tenham em conjugar o melhor dos dois mundos. Ou seja, a informação surge como uma nova seiva que corre no corpo das operações clássicas de aprovisionamentos, produção e distribuição.

Na era digital em que vivemos, a base competitiva dos negócios e indústrias evoluiu de um mundo exclusivamente físico para um outro em que este aparece inapelavelmente associado a um contexto de concorrência feita no palco virtual, ainda que bem real.

A informação é hoje um dos principais factores de competitividade. Permite, por um lado, ganhos de eficiência operacional e eficácia no alcance de objectivos, da mesma forma que altera as bases da concorrência em muitas indústrias. A forma como a informação é gerida e utilizada pela organização provoca alterações nas forças competitivas que moldam a rentabilidade duma indústria.

As relações com clientes, fornecedores e concorrentes evoluem de um contexto de trocas discretas para um contexto de interactividade permanente, a convergência tecnológica desenvolve novas necessidades e produtos substitutos, a ameaça de novos concorrentes intensifica-se e as fronteiras organizacionais tornam-se difusas.

Se bem que o advento da informação como recurso estratégico lance novos desafios e ameaças às organizações estruturadas de acordo com modelos clássicos, é também verdade que muitas outras têm utilizado inteligentemente esse recurso para se posicionarem no mercado.

À informação tem sido conferido o papel de elemento de suporte e apoio aos processos físicos da organização. A criação de valor através da informação requer não só o seu apoio às actividades da organização, mas também o desenvolvimento de processos virtuais.

O SIM surge como o meio de que a organização dispõe para criar valor, utilizando informação que possibilite a integração dos processo físicos e dos processos virtuais. Ao SIM cabe a recolha, organização, selecção, síntese e distribuição da informação. Ou seja, a informação tem o mesmo tratamento que é dado a um processo industrial de transformação de matérias primas em produtos acabados.

Referência original: Eiriz, Vasco (2003), "Competitividade", Jornal de Notícias (24 de Novembro), p. 17 (em colaboração com a Ordem dos Economistas)
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