2004-02-10

MEDICAMENTO ESTRANGEIRO. Os mercados organizacionais são frequentemente os primeiros a experimentar inovações que se estendem posteriormente a mercados consumidores. Uma dessas inovações aparece a seguir relatada por Mário Baptista do Diário Económico sob o títulto "Hospitais SA compram medicamentos no estrangeiro". Será que algum dia o consumidor poderá também vir a adquirir medicamentos no estrangeiro? "CGD, BES e PT são conselheiros para a criação de uma central de negociação para as compras dos hospitais. A unidade de missão criada para ajudar à empresarialização de 31 hospitais está a «estudar juridicamente a aquisição de medicamentos e material de consumo clínico no estrangeiro», revelou ao Diário Económico o presidente da estrutura. José António Mendes Ribeiro está também a criar uma central de negociação, para «reduzir os preços de aquisição entre 5 a 10%». Neste contexto, «será feito um acordo com a Caixa Geral de Depósitos, a Portugal Telecom e o Banco Espírito Santo para fazer esta plataforma», cujo objectivo é negociar com os fornecedores soluções de compra de medicamentos e todo o material de consumo clínico. Segundo sabe o DE, a plataforma poderá ser baseada na PME Link, que resultou de uma parceria entre estas três entidades. «Só em consumo clínico gastamos quase 500 milhões de euros por ano», sublinha Mendes Ribeiro, enfatizando a vontade de racionalizar os custos, através da standardização de consumos, redução do número de fornecedores, agregação de consumos e racionalização e desmaterialização das aquisições. Estas três entidades, apurou o DE, participam como «consultoras» da unidade de missão, mas a sua participação não está ainda concretamente definida, uma vez que o projecto é ainda embrionário. Certo, sabe o DE, é que este projecto já recebeu o acordo do ministro da Saúde, e será implementado ainda este ano. A garantia de cumprimento dos prazos de pagamentos aos fornecedores – uma das grandes dores de cabeça para os laboratório – é também uma preocupação. Na apresentação que fez anteontem no Parlamento, Mendes Ribeiro sublinhou que pretendia obter um desconto financeiro por garantia de cumprimento do prazo de pagamento. Uma prática, aliás, já seguida por alguns hospitais SA, que assim pretendem reduzir o montante da dívida, que durante 2003 chegou aos 650 milhões de euros. «Estamos a estudar juridicamente a hipótese de comprar medicamentos e material de consumo clínico no estrangeiro», revelou ao Diário Económico o coordenador da estrutura de missão, salientando que os problemas jurídicos podem vir do facto de ter de ser o Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento (Infarmed) a certificar a qualidade dos medicamentos que entram em circuito comercial português. «Quanto ao material de consumo clínico, sabemos que não há qualquer problema», mas no caso dos medicamentos a questão é mais complexa, porque além da certificação de qualidade, há também que ter em conta o facto de muitos dos laboratórios que operam em território nacional serem multinacionais, e que portanto estarão sujeitos às instruções da casa-mãe. Isto faz com que seja possível que uma filial espanhola de uma determinada marca fique impossibilitada de vender aos hospitais portugueses por instrução da casa-mãe, caso esta pretenda proteger a filial portuguesa. Para além da poupança estimada, há também a vantagem, para o Estado, de fazer descer a dívida dos hospitais aos fornecedores."
© Vasco Eiriz. Design by Fearne.