2004-10-11

GRANDE ABANÃO. A propósito do ensino e da gestão das universidades, Marçal Grilo, ex-ministro da pasta e professor da Universidade Técnica de Lisboa, concede uma entrevista ao Diário Económico, da qual se edita caixa intitulada "Hierarquia da universidade precisa de «grande abanão»": "Marçal Grilo, actual administrador da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), considera essencial proibir os professores de leccionar na escola onde fizeram o doutoramento. Para mudar o ensino superior, em primeiro lugar, «é indispensável acabar com a possibilidade da universidade contratar os seus próprios doutorados». Nos EUA, por exemplo, apesar de não haver legislação, «a pessoa tira o doutoramento e depois vai para outra instituição». A realidade portuguesa é a oposta: «As pessoas entram na universidade aos 17 anos, formam-se aos 22 e saem da lá aos 70 anos». «Isto é uma coisa absurda», sublinha. Em Portugal «só à força, estabelecendo que a instituição deve ser proibida de contratar os seus próprio doutorados» adianta. «Esta será a única forma de criar mobilidade», remata. Existem duas coisas fundamentais, no seu entender: «Dar um grande abanão na hierarquia e combater fortemente os interesses instalados que fazem com que uma parte do financiamento vá para aqueles que têm ideias do passado, quando deveria ser utilizado com base em princípios de qualidade». Para isso «é preciso que a organização interna das instituições reforce a liderança, criando condições para que o líder da instituição ou o reitor apareça designado de tal forma que apresente o seu projecto e preste contas, tal como o primeiro-ministro». Quanto à escolha do reitor, «há casos em que o ‘board of trustees’ deve definir se o reitor deve pertencer à instituição ou ser contratado fora». Actualmente, nalgumas instituições, «a constituição do corpo reitoral é difícil porque as pessoas não estão disponíveis». É preciso escolher «as pessoas com o perfil adequado para resolver os problemas que a instituição tem na altura. Se for melhor para a instituição a pessoa pode vir de fora». A «liderança não pressupõe uma grande participação, mas isso não significa que seja incompatível com a democratização da gestão». «Não somos capazes de andar ao ritmo que devíamos, na Europa, se mantivermos estes sistemas de decisão internos tão complicados», avisa o antigo ministro da Educação. Marçal Grilo integra, neste momento, um grupo de reflexão que junta 18 pessoas de toda a Europa para debater recomendações para as políticas europeias de ensino superior. A primeira preocupação comum encontrada na primeira reunião foi a gestão das instituições. «Toda a reflexão passa pelos sistemas de gestão de decisão e de liderança, capacidade de captar receitas próprias, ligação com as empresas e de ligação com o Estado. Outra questão muito sensível é a relação com o poder local, porque as universidades são um instrumento de desenvolvimento das regiões e de atracção de investimento», conclui."
© Vasco Eiriz. Design by Fearne.