Estratégia
SABER SAIR
Por Vasco Eiriz
Ao contrário de outras estratégias empresariais a saída é uma opção pouco conhecida. Hoje sabemos como penetrar em mercados ou diversificar um negócio. Contudo, os processos e formas de gestão da saída de um negócio ou de um mercado são menos conhecidos. Porque é que isto acontece?
Uma das razões reside no facto de, frequentemente, a opção duma empresa pela saída ser motivada pelo seu fracasso. Caso a empresa estivesse a ser bem sucedida nesse mercado ou negócio, haveria razões para o abandonar? Em princípio não.
SABER SAIR
Por Vasco Eiriz
Ao contrário de outras estratégias empresariais a saída é uma opção pouco conhecida. Hoje sabemos como penetrar em mercados ou diversificar um negócio. Contudo, os processos e formas de gestão da saída de um negócio ou de um mercado são menos conhecidos. Porque é que isto acontece?
Uma das razões reside no facto de, frequentemente, a opção duma empresa pela saída ser motivada pelo seu fracasso. Caso a empresa estivesse a ser bem sucedida nesse mercado ou negócio, haveria razões para o abandonar? Em princípio não.
Ora, quando uma empresa persegue uma estratégia de saída, ela não a publicita como, por exemplo, o faria se a sua opção fosse lançar novos produtos. Isto acontece, precisamente, pelo facto da saída poder ser a manifestação de um fracasso que, evidentemente, não faz sentido publicitar.
Noutras circunstâncias, quando existem fortes barreira à saída, talvez a melhor forma de as ultrapassar seja gerir o processo de saída com descrição. A descrição é necessária por exemplo quando a empresa necessita alienar activos, pagar indemnizações ou terminar contratos.
Mas será que é importante gerir adequadamente a saída? Vejamos o caso das empresas de têxteis e vestuário. Hoje são frequentes as notícias de encerramento de empresas deste sector. São empresas que não se encontram preparadas para a liberalização em curso. Esta liberalização começou a sentir-se fortemente em várias categorias de produtos com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio em 2001. Com o fim do Acordo Multifibras ocorrido em 1 de Janeiro deste ano, terminaram outras restrições que durante décadas protegeram os produtores de países como Portugal. A não ser que a Comissão Europeia desencadeie a aplicação de cláusulas de salvaguarda, os produtores portugueses sofrerão uma pressão competitiva de tal forma intensa que levará ao encerramento de muitas empresas.
Neste contexto de grande mortalidade empresarial, é inegável que a estratégia de saída é uma opção incontornável. Em estudo que realizámos recentemente sobre o sector foi para nós claro que a saída deve ser seriamente ponderada e gerida a par de outras opções de reestruturação empresarial como fusões e aquisições.
Num sector cada vez mais global como o têxtil e vestuário, é impensável que os maiores operadores portugueses que actuam em mercados com baixos níveis de diferenciação não ganhem escala internacional. Uma das formas de o fazer é através de fusões e aquisições, criando assim as condições para a saída de operadores menos predispostos a actual globalmente.
A alienação de empresas é pois uma opção de saída que deve ser contemplada por muitos empresários do sector. Estes empresários compreenderão que não são mais capazes de actuar no novo contexto do seu negócio e poderão procurar posições noutros negócios que, muitos deles, entretanto, criaram. Ao fazê-lo estão a contribuir para o sucesso dos mais capazes.
No caso das muitas empresas que continuarão a operar no sector, algumas delas, as melhor preparadas e posicionadas em segmentos mais diferenciados, beneficiarão duma liberalização que lhes traz não só novos concorrentes, mas também lhes abre a porta de novos mercados.
No caso das empresas de maior dimensão e posicionadas em segmentos de mercado menos diferenciados, deverão equacionar a deslocalização da produção. A deslocalização não é mais do que uma estratégia de saída parcial em que uma empresa continuará a operar no seu sector, mas com a sua base produtiva localizada noutra paragem que não Portugal.
P.S.: a propósito de saída, este artigo deverá sair no suplemento de negócios do Jornal de Notícias de segunda-feira, 31.