2005-05-06

A BOLSA DA CORPORAÇÃO. O jornalismo de negócios com qualidade é um bem escasso em Portugal. Mas há evidentemente excepções que confirmam a regra. Uma dessas excepções foi dada há dias à estampa no Diário Económico, no seu destaque do dia intitulado "Um mercado à prova de OPA", matéria a que dedicou quatro páginas. Aí se constata que das 20 empresas que integram o índice bolsista PSI-20 só duas (ParaRede e Novabase) não estão blindadas a OPAs. À boa maneira do corporativismo português, as restantes 18 possuem mecanismos diversos que as protegem de compradores indesejados. Por exemplo, alguns dos principais mecanismos de blindagem identificados envolvem a limitação de direitos de voto (isto acontece, por exemplo, na PT, EDP, BCP e BPI), controlo accionista de uma única entidade (por exemplo, o Estado no caso da PT), e controlo accionista em grupo (por exemplo, BPI e BES). Pois bem, quais são as consequências deste "modus operandi"? São várias e predominantemente negativas: i. potencial limitado de crescimento da bolsa devido à sua menor atractividade; ii. baixa transparência, tanto no mercado como nas próprias empresas; e iii. títulos menos atractivos devido à sua menor liquidez e potencial de valorização. Não deixa depois de ser curioso confrontar as ilações desta reportagem com o argumento que João Cardoso Rosas (JCR) publica em crónica, exactamente no mesmo jornal, duas páginas antes. É certo que quem tomou as decisões editoriais do DE não previu esta coincidência, mas, na verdade, o caso relatado sobre a bolsa não faz mais do que sustentar a tese de JCR de que "em Portugal a direita não é mais liberal do que a esquerda". Ou será que os "nossos" empresários do PSI-20 são de esquerda? Quanto ao argumento de JCR, não sei quem será mais liberal em Portugal, mas temo bem que nem direita nem esquerda o sejam suficientemente (curiosamente também não se pode concluir das palavras de JCR que a esquerda portuguesa seja mais liberal do que a direita). Quanto ao alinhamento dos "nossos" empresários também não dúvido que vários deles passaram há escassas semanas para a faixa da esquerda!
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