O OUTONO DO REGIME. Fernando Sobral do Jornal de Negócios que nos perdoe, mas há textos que merecem ser lidos e relidos. O "Outono do regime" é um deles:
O regime português está a chegar ao seu Outono. Sente-se no ar. Até a sua credibilidade cai como folhas caducas, que outrora ostentaram uma verdura eufórica e que agora estão queimadas. A classe política tem-se tornado a verdadeira pirómana do país: incendeia o seu próprio palco do poder. Nero não faria melhor. Tudo isto sucede, no entanto, perante a apatia do país.
Há quem ameace emigrar, há quem diga que só uma ruptura resolve o mar Aral em que se tornou o nosso sistema político. Irrigá-lo com o chamado «sangue novo» parece resolver pouco: quem tem ideias reformistas afoga-se num mar de burocracias. Há quem fique e encolha os ombros. A indiferença é o modo de vida português. E a amnésia tornou-se a ideologia nacional.
Por isso, exceptuando os períodos de ditadura, o rotativismo é a regra política. Portugal começa, no entanto, a parecer-se com um poço que está a esgotar a sua água. Ela já não chega para alimentar tanta gente que sorve todas as gotas possíveis e que vai deixando o deserto a crescer à sua volta. Sócrates, Santana Lopes, Durão Barroso ou Guterres apenas foram os últimos numa terrível marcha forçada dos portugueses rumo ao centro do mais impiedoso dos locais sem criatividade: a indiferença. O pior dos destinos de um país.