2006-11-27

Episódios da vida académica 10

Chegou finalmente o microgravador Olympus. Valeria a pena explicar as aventuras e desventuras que a subsidiária portuguesa da Olympus e um dos seus retalhistas me fizeram passar para adquirir este gravador e porque acabei por comprá-lo na FNAC. Mas talvez o faça noutro dia porque hoje quero escrever sobre microgravadores.

O novo microgravador vai ser utilizado sobretudo na recolha de dados através de entrevista, mas incorpora também um leitor de mp3 que deverá cumprir outras funções. Foi um gravador deveras caro. Caríssimo. O disparate do preço fez-me hesitar na aquisição. Ainda perguntei ao João Areias – investigador de doutoramento que oriento e me sugeriu este WS-320 – se os 100 euros de um leitor mp3 da Creative ou da Sony com função de gravação não seriam um investimento suficiente. Não fiquei totalmente convencido, mas parece que a funcionalidade de gravação destes leitores de mp3 é bem menor.

Depois – pormenor que na hora da verdade é capaz de ter justificado o investimento – o Olympus "parte-se" a meio e fica com ligação directa a uma porta USB, facilitando a transferência de dados para qualquer computador. Poderá, desta forma, facilitar a sua utilização por vários investigadores sem necessidade de cada um deles instalar "software". Isto acabou por ser um dos motivos que justificou a compra. Além disso, a verdade seja dita, o gravador deve ser deveras bonito. Digo que deve ser deveras bonito porque ainda não o vi fora da embalagem. Passei-o para o João que já o deve ter estreado com uma entrevista.

Da minha parte ficarei extremamente satisfeito se este Olympus substituir plenamente o meu outro gravador. O meu outro gravador foi adquirido há quase 15 anos aos indianos da Praça de Espanha, em Lisboa. Na altura não me passava pela cabeça vir para a academia fazer entrevistas e, portanto, comprei-o com outros fins. No meu imaginário, foi o agente Mulder da série The X-Files que, consciente ou inconcientemente, me influenciou. Fascinava-me o facto de poder explicitar os pensamentos num registo breve e facilmente acessível. Foi por isso que comprei um gravador para gerir os meus "x-files". Ao contrário de Mulder, não pretendia registar pensamentos sobre fenómenos paranormais.

Nessa altura já trabalhava numa grande consultora e foi aí que pela primeira vez percebi por experiência própria que os gestores são muito reticentes em traduzir para palavras escritas as suas ideias. São normalmente avessos à escrita e preferem a acção ou o discurso da acção. Daí alguma da popularidade destes microgravadores. Mas, como digo, nunca senti necessidade de registar fenómenos paranormais, ainda que depois de vir trabalhar para uma universidade não faltem fenómenos desses para registar.

O meu gravador antigo utiliza microcassetes de fita magnética. Nunca avariou. Foi com ele que recolhi alguns dados para o meu mestrado e doutoramento, já lá vão também alguns anos. Desde então tenho-o emprestado a vários investigadores, tendo contribuído para outros dois mestrados entretanto concluídos com sucesso. No total, esse gravador – de que nem sequer me recordo da marca, se é que tem alguma – fez já três mestrados e um doutoramento. Se o Olympus deixar uma marca idêntica a esta, dou-me por muito satisfeito.
© Vasco Eiriz. Design by Fearne.