2006-11-15

Episódios da vida académica 8

Diariamente chegam por correio electrónico imensas mensagens. Nunca tinha recebido uma mensagem como a que transcrevo a seguir. Apesar de hesitar muito no momento em que escrevo estas linhas, entendi finalmente colocá-las no ar porque esta mensagem traduz, na verdade, um dos episódios que mais me marcou no tempo que tenho de universidade. A mensagem diz: "Boa tarde, eu sou aluna do 4º ano de Gestao. por motivos de saude, fui internada a 27 de junho com Leucemia, nao me foi possivel realizar os exames de Estratégia e Competitividade tanto na época normal como na época de recurso. Inscrevi-me para realizar o exame da epoca especial, no dia 3, uma vez que passei uma semana em casa. no entanto o exame foi adiado e neste momento ja me encontro hospitalizada para fazer novamente quimioterapia. O mais provavel é na nova data do exame ainda estar no IPO e caso isto aconteça gostaria de pedir para fazer o exame numa outra data, se possivel. Agradeço desde ja a disponibiidade e atençao e apelo à compreensao para com a minha situaçao. Sei que nao estou nas melhores condiçoes para realizar exames, mas o facto de voltar aos poucos à vida normal ajuda-me a sentir melhor e encarar melhor a doença. Fico à espera de uma resposta o quanto antes, atenciosamente". Depois duma troca de e-mails e telefonemas o exame acabou por ser realizado no meu próprio gabinete numa das semanas de intervalo entre sessões de quimioterapia. É muito difícil a um professor confrontar-se perante uma situação destas numa aluna de vinte e poucos anos. Recordo-me dela através da foto da sua ficha de identificação, mas não foi nada fácil confrontar-me com a sua transfiguração. Por mais do que uma vez percebi da mensagem e das suas palavras que era importante ter uma vida normal para o seu bem estar psicológico. Por isso esforcei-me por me relacionar também normalmente com ela. Julgo que ela gostaria de ser avaliada nas mesmas condições que os demais colegas e assim o fiz. Após concluido o exame, no momento da despedida, com a garganta presa, o único que consegui dizer-lhe é que lhe desejava o maior sucesso na conclusão do seu curso e em tudo o resto que tem pela frente.
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