2006-12-28

Episódios da vida académica 13


J. voltou a enviar um SMS com votos de Boas Festas. A útlima vez que tinha recebido notícias de J. foi precisamente no Natal de há um ano. Nessa altura, J. tinha enviado um SMS a desejar Boas Festas. Se o padrão das nossas interacções se mantiver, deverei voltar a receber um SMS no próximo Natal. Por mim, tudo bem; enquanto J. tiver destreza para manipular SMSs e eu capacidade para ler SMSs, tanto melhor.

Eu e J. estabelecemos contacto pela primeira vez quando me convidou para orientar o seu projecto de investigação no sector hospitalar. Disponibilizei-me porque naquela altura, o sector encontrava-se nas minhas prioridades de investigação. Planeámos estudar o efeito das mudanças de estrutura organizacional na satisfação dos utentes. O problema central da pesquisa - identificar as implicações da integração hospitalar na satisfação dos utentes - parece cada vez mais actual, tal é o movimento de integrações em curso com a criação de centros hospitalares resultantes da fusão de vários hospitais. Iriamos estudar o caso da integração de dois hospitais num mesmo centro hospitalar, onde, aliás, J. exerce enfermagem.

Nunca percebi completamente em que área J. trabalhava, mas julgo que lidava com maluquinhos e outras maleitas de psiquiatria. Ainda hoje me questiono se não terá sido esta experiência de J. que suscitou o convite para ser seu orientador!

O tempo passou. J. chegou a escrever um capítulo sobre estruturas organizacionais mas o projecto nunca entrou em velocidade de cruzeiro. Percebeu-se que, em determinada altura, nos primeiros meses, J. se envolveu com algum esforço. Recordo-me, por exemplo, de me ter dito o quanto lhe custava escrever. Das nossas conversas avulsas percebi que J. tinha compromissos familiares. Tinha ainda envolvimento político - era, salvo erro, presidente da sua Junta de Freguesia - e, qual osso do ofício, os seus horários eram atípicos. Para compor um contexto já de si pouco favorável, J. não encontrou abertura da administração do seu centro hospitalar para realizar a pesquisa empírica.

Não me recordo de ter reunido mais do que uma vez com J., algo que não pode ser só justificado pela nossa distância fisíca. Mesmo esse único encontro pessoal decorreu por iniciativa minha quando "convidei" vários investigadores para debatermos os seus projectos. No decurso da orientação esforcei-me sem sucesso por recuperar o seu envolvimento no projecto. Tudo quanto consegui foram SMSs natalícios que nem sequer permitem confirmar as minhas suposições sobre os motivos que tornaram J. ausente.
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