2007-03-07

Estratégia internacional

Soube pelo Jornal de Negócios que a IKEA está em processo de recrutamento de 500 pessoas. Evidentemente por causa da loja de Matosinhos que se apresenta como a maior do grupo na Península Ibérica. É de crer que o investimento industrial acordado para Paços de Ferreira e outras lojas previstas para Portugal façam aumentar substancialmente este número. Trata-se, por isso, duma oportunidade a não desperdiçar; é fazer a candidatura porque afinal de contas é uma empresa sueca! Ao que leio sobre a cultura prevalecente no grupo, se eu fosse candidato (e porque não?), garanto-vos que aparecia de chave de fendas na entrevista. Nem pensar em colocar gravata; talvez um fato de macaco não fosse pior escolha!

A IKEA é um caso muito interessante. Há anos que recorro à ilustração sobre a empresa que surgiu numa das edições de "Exploring Corporate Strategy" de Gerry Johnsson e colegas. Na altura traduzi o texto para português e desde então tenho-o utilizado ao ponto de se ter tornado num clássico do meu menu das disciplinas de estratégia. Mesmo com alguns dados desactualizados, este pequeno caso reveste-se de grande interesse e vasta aplicabilidade em termos de conteúdos programáticos. É, por exemplo, adequado para compreender o processo de internacionalização de Uppsala. Mas se atendermos a que estamos perante uma teoria e uma empresa, ambas de origem sueca, que curiosamente se desenvolveram em paralelo como que uma a confirmar a outra, então a atracção pelo caso é ainda maior. Como a marca entrou entretanto no imaginário dos alunos, esse interesse reforça-se e faz com tenha decidido não o descontinuar.

Apesar deste caso ilustrar bem um processo de internacionalização, continuo a recorrer a ele sobretudo para ilustrar as características das decisões estratégicas que foram tomadas pela IKEA ao longo do seu historial de meio século de existência e de que forma este tipo de decisões se distingue das decisões operacionais ou decisões tácticas. Lembro-me, por exemplo, da importância do catálogo da IKEA: até que ponto a criação de um catálogo – decisão que numa primeira avaliação não é mais do que uma decisão corrente na generalidade das empresas – é, no caso da IKEA, uma decisão estratégica? Será? Se sim, porquê? Qual a relação entre o catálogo e o modelo de negócio do retalhista sueco? Estas e outras questões voltarão a ser trabalhadas daqui a momentos em estratégia internacional.
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