2007-06-08

Distribuição de Dividendos
Por Vasco Eiriz

Ideias de negócio nos media
Depois de avaliar um dos trabalhos pedidos este ano em Empreendedorismo reforcei a convicção de que o pedido não era fácil. De outra forma também não valeria a pena, e por isso dou-me por satisfeito com o resultado final. Um resultado final variável numa amplitude entre oito e quinze valores. O objecto do trabalho – efectuar uma análise sectorial num dos subsectores dos media que cada aluno escolheu para propor uma ideia de negócio – foi assim definido pelo facto dos media serem um sector com fronteiras amplas e cada vez mais permeáveis. São mudanças, por vezes dramáticas, a que assistimos todos os dias e isso estimula a criatividade, embora, no momento de efectuar uma análise sectorial sustentada, não seja fácil aplicar os instrumentos convencionais de análise. As escolhas foram diversificadas e envolveram revistas especializadas nos mais diversos temas, predominantemente distribuídas "online", canais de televisão pela internet, empresas de publicidade focalizadas em diferentes suportes, meios de comunicação regional e local, e, que me lembre, rádios especializadas. Foi, enfim, um mosaico de ideias interessantes.

Jornalismo subcontratado
Há na comunicação social uma utilização cada vez mais intensa de "outsourcing" do trabalho de jornalista. Tradicionalmente, um jornal era produzido pela sua redacção. Em termos de produção de conteúdos, pouco era contratado externamente. Alguma opinião e pouco mais. No máximo algumas parcerias permitiam aceder a conteúdos de outros jornais. Hoje abre-se um jornal e basta ver quem assina para perceber que é cada vez maior a percentagem do jornal que é feita com a publicação de artigos subcontratados, não só a "freelancers" mas também a empresas que se especializam na produção de conteúdos. Empresarialmente este movimento não traduz nada de novo. A subcontratação de parte da produção ou de toda a produção é algo que muitas indústrias já praticam há séculos. Mas na imprensa não era este o padrão tradicional da produção e, como tal, coloca novos desafios. Ao ponto de se poder perguntar: o que é hoje um jornal? Curiosamente, um dos aspectos menos ponderados nos trabalhos dos meus alunos foi, ao contrário da distribuição, o modelo de produção associado a cada ideia de negócio.

Big brother is watching you
Deve ser impressionante a quantidade de informação que o Google consegue obter dos internautas que recorrem aos seus serviços. Qual Big Brother digital, o potencial para identificar perfis dos utilizadores deve preocupar qualquer empresa de pesquisa de mercado. No labirinto quase infinito em que se transformou a internet, onde cada um se perde facilmente e navega sem propósito claro, o Google consegue identificar padrões de pesquisa, traça rumos, cruza preferências, agrega dados, desenha perfis. Confesso que apesar de, no momento em que escrevo, os meus favoritos identificarem 1742 endereços que procuro ter criteriosamente arrumados em 54 pastas de diferentes níveis, é para mim um autêntico mistério o que a navegação nestes e noutros endereços revela. Mas, ao que parece, como tenho conta no Gmail e estou "online", estou sempre a ser perscrutado. Nos domínios insondáveis da internet, o Google já deve ter definido o meu e o seu perfil de forma bem mais nítida do que nós próprios somos capazes. "Big brother is watching you". Será que o Google vai também reformatar o negócio da pesquisa de mercado? Será este um bom exemplo de que a fronteira entre muitos negócios - sejam os media ou qualquer outro - é cada vez mais difusa?

Octávio
Compro cada vez menos jornais. Mas uma das coisas que me parece valer a pena acompanhar nos próximos tempos é a evolução do Diário de Notícias que viu recentemente substituída a sua direcção editorial. Para director foi escolhido João Marcelino, até então o principal responsável editorial do Correio da Manhã (CM). No triste panorama de imprensa diária portuguesa, o CM é provavelmente o melhor jornal do mercado de âmbito nacional e não é por acaso que é líder de vendas, afinal de contas um indicador de desempenho bem melhor que o das audiências. Para o lugar de Marcelino foi promovido Octávio Ribeiro que anteriormente fazia parte da equipa de Marcelino. A primeira recordação que tenho de Octávio é da TVI. Nessa altura apresentava um qualquer programa de futebol e a impressão com que fiquei é de que nunca tinha assistido a linguagem tão simples, acessível, a roçar o banal. De tão elementar que era o conteúdo da comunicação, até me questionava da sua inteligência. Hoje, depois de ler a entrevista que Octávio concedeu há dias ao Meios & Publicidade, não tenho dúvidas: era eu que estava enganado. A eficácia está bem presente e revela um conhecimento e visão do mercado que supera uma série de preconceitos sobre a imprensa que sempre estiveram presentes em Portugal. Também por isso o CM é líder.

Distribuição de Dividendos, uma coluna com estatutos desblindados que não necessita de autorização da assembleia geral para distribuir dividendos e garante OPAs céleres.
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