2007-07-11

Episódios da vida académica 27

Sempre tive simpatia por recensões. Presentemente, as recensões não fazem parte das minhas leituras predilectas mas lembro-me que quando mestrava e, posteriormente, quando doutorava, lia bastantes, ao ponto de catalogar muitas delas.

As recensões são uma forma excelente de estar a par do que de melhor se publica. Na impossibilidade de adquirir ou ler um número demasiado elevado de livros, elas são uma forma económica e útil de aceder a uma visão critica e filtrada dos livros. Isto porque quando uma revista académica publica recensões, normalmente privilegia a recensão de obras importantes no seu domínio de especialidade. Por outro lado, num texto relativamente curto temos acesso a uma leitura critica do livro escolhido, escrita por um especialista na matéria. Ao ler recensões, a aprendizagem é elevada, não só porque estamos perante uma espécie de revisão da literatura extensiva, embora focada geralmente numa única referência, mas também porque aprendemos a identificar as fragilidades e os aspectos melhor conseguidos num livro. Não raras vezes, em livros que nós próprios conhecemos e sobre os quais fizemos uma determinada leitura, é estimulante verificar como outros leitores conhecedores da matéria destacam outros aspectos e possuem uma visão distinta da nossa. Por tudo isto, aceitei efectuar em co-autoria a recensão de "Women and Entrepreneurship", uma colectânea publicada pela Edward Elgar em 2006.



Quando fui convidado para a tarefa com o argumento de que o empreendedorismo era central nos meus tópicos de ensino e investigação, ainda advoguei que teria algumas dificuldades na primeira das duas partes do título. Sim, porque sobre empreendedorismo eu ainda poderia escrever umas coisas, mas sobre mulheres, convenhamos, seria mais difícil. A não ser que eu tratasse da segunda parte do argumento e o meu co-autor pegasse na primeira. Sugeri, mas a desculpa e a sugestão não pegaram, motivo pelo qual tive de me deter sobre um tópico – o da relação entre mulheres e empreendedorismo – que, não me sendo estranho na literatura, não era central nos meus interesses. E assim foi com um resultado que não me parece ter sido afeminado!

Depois disto entendi que este tipo de exercício – com recensões, não com mulheres, entenda-se – deveria ser praticado pelos próprios investigadores que oriento e, nesse sentido, lancei desafio idêntico a doutorandos que se encontram ainda numa fase de revisão de literatura.

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