Por Vasco Eiriz
Chegou carta lá a casa, vinda do banco. Receber cartas do banco, todos nós recebemos mas, neste caso, a proposta era mais ambiciosa: «Concretize os seus sonhos!», assim mesmo, escrito em letras garrafais e bem carregadas. Assinada por alguém duma obscura Direcção de Inovação e Promoção Comercial, a carta jura a pés firmes: «Queremos que realize os seus sonhos! Por isso, temos em exclusivo para si um crédito pré-aprovado de 2.500€, pelo prazo de 84 meses, que poderá usar para a finalidade que pretender.» A própria missiva elenca possíveis destinos do crédito – entre eles um curioso e incompreensível «reequilibrar o seu orçamento familiar» - e acrescenta o blá, blá do costume. O primeiro que choca é o banco pensar que uns parcos 2.500 euros podem realizar os meus sonhos! Como ainda por cima a carta chegou no exacto dia que foram conhecidas as operações familiares do BCP, então a sugestão que aqui se dá ao Estado e seus reguladores é que além de fiscalizarem devidamente a actividade bancária, metam travões mais eficazes na forma como se "vendem" serviços.
Database interactive banking
Há um outro banco de que sou cliente e que também me tem irritado solenemente. Este, além de cartas, envia SMSs maçadores e, não plenamente satisfeito, farta-se de telefonar. A proposta é também invariavelmente a mesma. Insistem, insistem em colocar 6.000 euros na minha conta bancária. Ao contrário do outro banco, não promete concretizar os meus sonhos mas consegue ser ainda mais maçador. Sempre que recebo o telefonema, termino amavelmente a conversa com o/a operador/a a dizer-lhe que o banco deve implementar o pedido que repetidas vezes tenho feito de eliminar a identificação do meu telemóvel da base de dados. Explico que é um direito que me assiste por lei e - algo estupefactos por eu não querer os 6.000 euros - lá acabam por registar o pedido. Passam-se depois algumas semanas, e os episódios repetem-se sucessivamente sem que haja qualquer respeito. Nas duas últimas tentativas, terminei a conversa informando que irei proceder a uma queixa formal sobre o comportamento do banco. E não é que agora me começaram a telefonar para outro número sempre a quererem forçar-me a pegar nos 6.000 euros! E eu não sou filho do presidente!! Imaginem se fosse, eram logo 12 milhões. E aí talvez eu conseguisse concretizar alguns dos meus sonhos.
Desacordo de regime
Também a caixa de correio electrónico recebeu mensagem, bem mais importante. Trata-se de manifestação de indignação sobre o estado da justiça e segurança em Portugal: «Este comentário poderia parecer político mas é mesmo uma opinião. Quando um órgão de soberania, como é o caso da Assembleia da República, que aprova um Código Penal que incentiva o crime, que outra coisa poderemos esperar senão insegurança. Havendo máfias criminais, vão aparecer máfias de "justiceiros" pelo país fora, se os cidadãos inseguros sentirem que a justiça é uma espécie de magazine. Tenho dito.» Disse e disse muito bem, caro leitor. Eu só acrescentaria que estas "reformas" em curso na justiça muito devem a um "acordo de regime" entre o partido do Governo e o maior partido da oposição. Com resultados destes, eu cá prefiro que não haja acordos de regime. E, se Menezes pretende uma nova constituição e quer terminar com o Tribunal Constitucional, então não vejo como seja possível manter um acordo de regime na área da justiça.
Distribuição de dividendos mais generosa
Agora que descobri uma caneta de ponta afiada e tinta fresca estou tentado a distribuir dividendos mais frequentemente. Ao longo dos últimos meses – desde Março passado quando iniciei esta nobre política de Distribuição de Dividendos – tenho feito pagamentos quase religiosamente de 15 em 15 dias, à sexta-feira. Mas agora vou adoptar uma política mais expansionista e generosa. Nada prometo, mas garanto valor acrescentado para os cliques neste blogue. Haverá mais dividendos para todos, pelo menos enquanto durar a tinta fresca e a ponta da caneta permanecer afiada. Sim, sim, porque matéria não falta. E, claro, não forçarei qualquer crédito.