2007-12-18

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Qual é o posicionamento competitivo de Portugal?
Por João Leitão

No decurso do último mês de actividades lectivas, esta é a questão que coloquei repetidas vezes aos alunos de primeiro e segundo ciclo em Gestão e Marketing. Escusado será dizer que a questão levantou outras questões de natureza bem diversa e profusa, que a lógica comercial e a rationale económica não permitem responder com suficiência. O desafio lançado aos alunos resume-se no seguinte: olhemos para história de Portugal e descubramos as vantagens comparativas que nos ajudam a compreender onde estamos hoje e também onde poderemos chegar amanhã.

A lógica Ricardiana merece ser reabilitada pelos governantes, intelectuais, poetas e seres pensantes deste país, na medida em que é mais do que tempo para decidir, estrategicamente, quais são as especializações produtivas em que Portugal deve apostar.

A reflexão em torno de um novo posicionamento competitivo para Portugal, deve tomar em consideração as vantagens naturais, as condições geográficas, os factores produtivos e sobretudo os factos históricos que marcaram para todo o sempre o bom fado Português.

Porque se produzem GPS com mapas tri-dimensionais em Portugal? Porque adoptamos e desenvolvemos, pela utilização, novas tecnologias a um ritmo alucinante? Porque exportamos jogadores de futebol, atletas, treinadores e cientistas de topo? Porque deixámos de reproduzir Portugueses e Portuguesas?

Relativamente à primeira questão, a história explica que a odisseia de 1500 marca indelevelmente a trajectória tecnológica do povo dos descobridores para todo o sempre. Se algures no tempo desenvolvemos cartas de marear e astrolábios, então será de esperar que o paradigma da mobilidade seja o guia para a acumulação de vantagens comparativas em futuras especializações produtivas.

As novas tecnologias são por nós adoptadas a um ritmo alucinante, porque temos um capital hereditário de falar, falar e falar…sobre a nossa vida e a vida dos outros. A acrescer a isto, juntem-se as aptidões históricas para o escárnio e mal dizer aliadas a um perfil de negociador internacional, dificilmente imitável por outro cidadão do mundo.

A exportação de activos humanos, tal como sucede com os jogadores de futebol, atletas, treinadores e cientistas de topo tem raízes históricas profundas aliadas à necessidade intrínseca de mostrar em primeiro lugar as habilidades nacionais por terras estrangeiras, só depois (salvo raras excepções tal como a de José Mourinho) é conferida uma espécie de certificação, que abre os braços dos indígenas nacionais a tamanhas facetas cometidas no estrangeiro por estes bravos descendentes de Viriato e de Afonso Henriques.

Por último, deixámos de reproduzir Portugueses e Portuguesas, porque o factor produtivo trabalho não é abundante, logo sem matéria-prima de base não estamos habilitados a conferir uma maior densidade populacional ao nosso país. Mas há sempre a oportunidade desejável de promover a mescla de culturas e raças que de acordo com os benchmarks internacionais promovem, efectivamente, a capacidade empreendedora e de inovação dos países. Este é apenas um pequeno contributo para o início de uma discussão que se pretende enriquecedora e que se reveste de um carácter urgente, pois sem posicionamento competitivo, Portugal continuará a ser, em termos metafóricos, um barco com um remo, cujo desenvolvimento será marcado por trajectórias tecnológicas circulares, sem saltos tecnológicos aliados a novas especializações que devem ser definidas em função do que a história de Portugal preconize como sendo feito por Lusos há mais tempo e melhor do que os outros povos que merecem um acolhimento e um respeito universal.

João Leitão é professor auxiliar na Universidade da Beira Interior. Edita o New Economics Papers e coordena a edição da International Review of Business and Economics (nova edição da Revista de Gestão e Economia).
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