2007-12-10

A lida

Já se sabia que no Politécnico de Santarém há alunos demasiado pujantes, tanto assim é que alguns foram a tribunal responder por práticas violentas na praxe. Mas a julgar por notícias recentes, este estilo musculado que nada deve à lida dos campinos não é um exclusivo do corpo discente.


«Um professor acusa o presidente da Escola Superior de Gestão do Politécnico de Santarém de o ter agredido fisicamente. O Expresso teve acesso aos relatórios médicos do Hospital Distrital de Santarém e à queixa apresentada na PSP e no Ministério Público, que dão conta das marcas da agressão deixadas na cara e num punho do professor. A vítima, Fé de Pinho, disse que estava no seu gabinete quando, a 30 de Março, Jorge Faria entrou e o mandou ir à sua sala, ameaçando-o com uma cabeçada. Perante a estupefacção do queixoso, o presidente da escola terá tentado pontapeá-lo no baixo-ventre e socá-lo na cara e no estômago. No meio de tudo isto, o alegado agressor dizia ter uma carta relativa aos critérios a adoptar pelo júri de um concurso para professor-adjunto de cujo júri Fé de Pinho era presidente. "Ora as regras de seriação dos candidatos são matéria do conselho científico", adianta o professor, para explicar o motivo que o levou a recusar a imposição do presidente da instituição. Num esclarecimento pedido pelo Expresso, Jorge Faria garante ser tudo mentira: "Nego em absoluto que alguma vez tenha agredido qualquer professor dentro ou fora das instalações da escola". E sugere até que consultemos as conclusões do relatório da Inspecção Geral do Ensino Superior (IGES). Depois de docentes e advogados terem enviado, desde Abril, ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior participações contra o presidente da escola, a 'polícia' da tutela avançou. No Verão, a Inspecção ouviu um rol de testemunhas sobre alegadas irregularidades em concursos e agressões e ameaças feitas por Jorge Faria. O Expresso não conseguiu ter acesso às conclusões da fiscalização, mas o presidente da escola garante: "A actuação dos órgãos da ESGS em caso algum foi alvo de reparo, tendo todos os procedimentos sido validados pela IGES". Contudo, na 4ª feira passada, a presidente do Instituto Politécnico de Santarém, Lurdes Asseiro, disse ao Expresso que "vão ser instaurados processos disciplinares" porque a IGES encontrou motivos. "Só falta ser nomeado um instrutor". O Expresso falou com vários docentes mas todos recusaram dar a cara. "O ambiente é de medo. Além de a grande maioria dos professores não pertencer ao quadro, todos sabem que a IGES ouviu e não fez nada", disse um dos contactados. O próprio Fé de Pinho afirmou não ter recebido qualquer informação da presidente do politécnico sobre a participação relativa à agressão. Em Novembro, a vítima recebeu "um suposto extracto das conclusões do inquérito" sem qualquer menção à agressão que o levou às urgências do hospital. O Ministério escreveu-lhe em Novembro, dizendo que a presidente do Politécnico tinha competências para avançar com um processo. Uma testemunha do ataque físico a Fé de Pinho, que pediu o anonimato, contou nunca ter visto nada assim em muitos anos de carreira. Este professor diz que o presidente não gosta de ser contrariado. Outro docente, que fez parte de um júri, conta ter sido ameaçado e recebido ameaças veladas à sua família. Uma professora, que tem um processo em tribunal contra a escola, chegou a pedir protecção policial, na sequência das agressões a Fé de Pinho e de ter sabido que um colega fora ameaçado de levar "uma tareia" no bar da instituição. Esta docente recusou-se a apresentar-se sozinha no gabinete do presidente, onde deveria assinar um contrato de trabalho com o qual discordava. Nunca mais lá voltou.» [Expresso]

No meio de tudo isto, o ministério encontra problemas mas, comodamente, chuta para a presidente. Se eu bem conheço estas rixas na academia, a presidente, claro, vai nomear um instrutor. Até que chegará o dia em que o instrutor, já suficientemente instruído, despachará para a presidente. Depois, esta é capaz de enviar para outro sítio qualquer, talvez para uma nova inspecção do ministério, entretanto criada. E chegará certamente novo dia em que o processo - de tantas voltas e reviravoltas que deu - é arquivado. Na procura duma justiça que nunca chega, paralelamente haverá envolvidos que se socorrem de advogados - agora, ao que se diz, em processo de proletarização - e estes, claro, irão entrar com processos em tribunal. Passados anos, haverá sentenças, mas depois será a vez dos recursos para as instâncias superiores e destas para as mais superiores. Daqui a meia-dúzia de anos (cenário optimista), quando tudo chegar ao fim, ficam todas as partes e todos nós a perder.

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