2008-05-29

Fusões, aquisições e confusões

A propósito de fusões, aquisições e confusões entre unidades orgânicas (isto é, faculdades e coisas parecidas), António F. Tavares, professor de administração pública na Universidade do Minho (UM), enviou-me uma mensagem suscitada, em primeiro lugar, por uma posta aqui colocada há dias. Eis a mensagem:

«1. As unidades orgânicas não são peças de uma engrenagem, que se podem desaparafusar de um local e aparafusar noutro. Propor megafusões nas Universidades portuguesas e, em particular, na Universidade do Minho, é um perfeito absurdo. Como se fosse possível misturar culturas organizacionais que evoluiram de forma quase independente durante décadas! 2. O ponto anterior não invalida o argumento utilizado no teu post. De facto, em teoria, faz sentido que as Ciências Económicas e Sociais pertençam à mesma estrutura; tirei o doutoramento numa universidade americana em que tal sucedia. Acontece que quando duas áreas passam 20 anos "de costas voltadas", não é o espírito idealista de alguns que as consegue juntar. O meu cinismo leva-me igualmente a suspeitar desse excesso de voluntarismo que vejo em algumas dessas pessoas... 3. Quanto à EEG (n.r.: Escola de Economia e Gestão), desde já digo que seria totalmente contra uma fusão com o ICS (n.r.: Instituto de Ciências Sociais). As culturas académicas, científicas e profissionais são incompatíveis. Mais importante do que isso, até a concepção de universidade das duas Escolas é diferente. Tendo tirado a minha licenciatura no ICS sei do que falo... 4. Por último, e muito havia para dizer sobre isto, o modelo matricial da U.M. está morto. A minha tese de mestrado, escrita em 1997, era um epitáfio. Hoje, ainda há quem discorde do seu fim em termos formais, mas a prática demonstra precisamente o contrário. Essa mesma prática inviabiliza, segundo julgo, qualquer tipo de fusão ambiciosa. Talvez "IEP+IEC" seja possível, mas apenas porque o IEC (n.r.: Instituto de Estudos da Criança) é uma anomalia organizacional...»

A autorização do Fernando para colocar o comentário no ar foi dada desde que eu próprio comentasse o assunto. Pois bem, para além de em momento algum eu ter sugerido uma fusão EEG+ICS (embora, me pareça evidente a necessidade duma reestruturação da UM), o meu comentário é muito simples e baseia-se enum facto significativo. Há dias fui a um debate sobre estas matérias em que um dos intervenientes era precisamente o presidente do ICS, umas das tais unidades orgânicas que é, em alguns meios, dada como "opável". Ouvi-o elencar vários cenários interessantes para o futuro da sua faculdade. Embora tenha sido candidato derrotado nas últimas eleições para reitor da UM, não se quis pronunciar sobre as outras faculdades. Nas suas palavras, talvez para não ferir susceptibilidades, limitou-se a falar sobre o seu "galho"! E, garanto, nas suas propostas havia muitas ideias interessantes. No fim disparei a questão que mais me interessava: qual dos vários cenários por ele elencados sobre o futuro do ICS era o mais "provável" (pergunta malandra, evidentemente)? A sua resposta foi clara: ele não sabia qual o cenário mais provável porque isso era matéria que estava fora do âmbito das suas competências e teria que ser ponderada e decidida por outros. Dito assim, caro Fernando, o comentário que mais me apetece fazer é este: se o presidente duma unidade orgânica, professor catedrático, ex-candidato a reitor, não controla variáveis como esta, o que mais poderemos dizer ou propor? Meu caro amigo Fernando, não acredito que partilhes a ideia de que as reestruturações devem vir das bases!
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