2008-09-30

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Dilema de gerações
Por Natália Barbosa

De uma forma geral, todas as economias ocidentais se confrontam com a necessidade de rejuvenescer a sua população, através do aumento do número anual de nascimentos, e, em simultâneo, de aumentar o nível educacional da população, potenciando assim ganhos futuros de produtividade. Nesse sentido, diversos e variados sistemas de incentivos são desenhados e implementados de forma a levaram as pessoas a tomar as decisões desejáveis no que concerne à natalidade e a níveis de educação e formação académica. A expectativa dos decisores públicos é, de assim, verem as estatísticas de natalidade e nível educacional evoluírem favoravelmente nos anos seguintes.

Contudo, as decisões de natalidade (em particular, decisões de maternidade) e de formação académica não são decisões independentes. Pelo contrário, tendem a ser fortemente interdependentes. Se a definição de incentivos económicos não tiver em consideração essa interdependência, então podemos mesmo observar efeitos indesejáveis.

Em países onde a participação das mulheres no mercado de trabalho é significativa, como é o caso de Portugal, é muito provável que a interdependência entre decisões de maternidade e formação académica seja acentuada. Isto ocorre porque, de uma forma ou outra, mais ou menos intensamente, o mercado de trabalho tende a penalizar as decisões de maternidade tomadas por mulheres profissionalmente activas. Neste tipo de contextos, vários estudos demonstram que as mulheres que planeiam ter filhos relativamente cedo tendem a evitar carreiras e profissões que penalizem a sua predisposição para serem mães. Ou, mais relevante ainda, se as mulheres antecipam que a predisposição para a maternidade irá provocar uma redução no benefício financeiro que podem extrair do seu investimento em formação académica, então elas tendem a não investir ou a investir menos do que o desejável.

Se adicionarmos a isto factores biológicos inultrapassáveis, então não é difícil concluir que as mulheres que decidem investir na sua formação académica tendem a ter um fraco ou modesto contributo para a melhoria dos indicadores de natalidade. Assim, a aposta no aumento educacional da actual geração pode comprometer a criação de gerações futuras. Ou vice-versa. A solução deste dilema de gerações não é fácil. Mas, claramente, ele não se resolve através de incentivos que tenham apenas em consideração uma das faces da moeda.

Natália Barbosa é Professora Associada no Departamento de Economia da Universidade do Minho. É Ph.D. in Economics pela The University of Manchester, Reino Unido. As suas áreas de interesse são dinâmica empresarial e investimento directo estrangeiro. Para além de artigos de divulgação que versam estes tópicos, tem trabalhos publicados em revistas científicas internacionais.

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