2009-01-06

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Recessão, desemprego e inovação
Por Ana Paula Faria

As notícias não são boas. A economia dos E.U.A. foi considerada oficialmente em recessão. Desde Outubro de 2007 que os principais indicadores da actividade económica (produção industrial, consumo, rendimento real, emprego) têm vindo a assinalar uma evolução negativa. Entre estes indicadores o que recebe mais atenção por parte dos media é, naturalmente, o desemprego. A taxa de desemprego nos E.U.A. ronda agora os 7%, o valor observado mais alto desde 1991. Esta vaga de destruição de trabalho tem sido transversal, afectando todos os sectores de actividade, trabalho qualificado e não-qualificado, homens e mulheres, jovens e menos jovens. De facto, o mercado de trabalho nos E.U.A. é conhecido pela sua flexibilidade: o trabalhador é dispensado quando a empresa assim o entende, assim como rapidamente contrata um novo trabalhador, e a actual recessão está a ser um exemplo paradigmático dessa flexibilidade.

Numa entrevista recente, quando questionado sobre o futuro da economia americana, o economista Edmund Phelps, Prémio Nobel da Economia em 2006, mostrando-se apreensivo, referiu dois factores como sendo importantes para solucionar a actual crise económica: a inovação e a poupança. Através da inovação consegue-se reduzir custos e tornar os bens mais baratos, fazendo aumentar a sua procura e logo a respectiva produção. A inovação permite ainda criar novos mercados. Na verdade, frequentemente, em tempos difíceis é quando surgem novas oportunidades. A Cisco foi criada duas semanas antes do crash no mercado bolsista e a Oracle foi criada durante a recessão dos anos Reagan. Por comparação, Phelps referiu também que, na Europa, o mercado de trabalho é bastante mais rígido, particularmente, havendo uma diferença significativa entre a Europa continental e insular, sendo esta rigidez uma barreira aos ajustamentos no mercado de trabalho e à inovação. Num trabalho que estou a desenvolver com uma colega da minha universidade, encontramos evidência empírica que corrobora esta ideia, em concreto, chegamos à conclusão de que a rigidez no mercado de trabalho europeu esta a ter um impacto negativo na inovação num conjunto de países da União Europeia. Os E.U.A. continuam a ser o país mais inovador, onde inovação e empreendedorismo além de características da economia, fazem verdadeiramente parte da cultura americana. Neste sentido, estou optimista quanto à capacidade de recuperação da economia americana.

No que respeita a poupança, o povo americano está mal classificado, com uma taxa de poupança negativa. Neste aspecto, a cultura americana está a ser prejudicial. A lógica da poupança foi substituida pela lógica do cartão de crédito e o povo americano está a começar aprender a usar o cartão de débito em sua substituição. Pode ser que com uma crise desta dimensão surja algo de positivo, em particular, o facto de ser necessário poupar. Uma actriz ‘free lancer’ americana de 26 anos que está sem trabalho há 3 semanas e sem poupanças disse, numa entrevista, que precisava da saia perfeita porque não tinha a saia perfeita, a qual comprou com o cartão de crédito!

Ana Paula Faria é professora da Universidade do Minho. Possui o PhD em economia pela University of Nottinghan (Reino Unido) e as suas áreas de interesse académico incluem temas como a inovação e mudança tecnológica, produtividade e eficiência.
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