2009-06-14

Laboratório

Do conhecimento à criação de valor
Por Ana Oliveira, Dina Silva, Marta Pojo e Meirilane Coelho

As universidades até aos finais do século XX assumiam uma estratégia tradicional, que era focada essencialmente na licenciatura como modo de transferência de tecnologia, onde os resultados obtidos nas investigações não ultrapassavam o seio da comunidade científica. Actualmente, as universidades desempenham um papel mais activo nas economias nacionais e regionais, uma vez que são capazes de transformar os resultados das suas investigações em novas oportunidades de negócio, ajudando na criação de novos produtos, processos inovadores, riqueza e novos postos de trabalho.

Neste contexto, surge na década de 1970 nos Estados Unidos o conceito de spin-off. Spin-off é uma empresa inovadora de base tecnológica ou de conhecimento intensivo, criada por alunos, bolseiros ou docentes de uma universidade, fundamentando as suas actividades em know-how desenvolvido no seio académico. Sendo de interesse para esta empresa de base tecnológica que seja criada e mantida uma ligação privilegiada a centros de investigação e desenvolvimento, como a universidade, para que possa ter suporte científico, técnico, administrativo, estando sempre a par de novas tecnologias e investigações desenvolvidas na universidade. A criação de spin-off’s que desenvolvam e comercializem as novas tecnologias que têm origem nas universidades é uma das formas mais eficazes de transferência de conhecimento inovador para a sociedade e para os mercados.


© OnuR

Diferentes benefício podem ser obtidos com um spin-off de base académica: (i) criação de novos postos de emprego; (ii) actuar como intermediários entre a investigação básica e aplicada; (iii) contribuir para um aumento da eficiência na inovação e desenvolvimento económico na região na qual esteja inserida; (iv) actuar como agentes económicos que deslocam as fronteiras tradicionais da pesquisa. Existem factores que influenciam o processo de criação de spin-off’s desde a concepção da ideia até à comercialização do produto, de que são exemplo o compromisso e comportamento dos indivíduos envolvidos na ideia; a comunicação dentro e fora da organização; barreiras de origem cultural relativamente à comercialização dos resultados da investigação; e os indivíduos-chave que são imprescindíveis nos grupos que desenvolvem o projecto como o criador da ideia, o empreendedor interno, o responsável pelo processo, o gatekeeper tecnológico e o patrocinador do projecto.

Os ambientes envolventes às universidades variam em termos de infra-estruturas e processos de transferência de tecnologia, e, como tal, o potencial, a orientação e o crescimento das empresas spin-off varia. Perante tal cenário, as universidades podem adoptar diferentes políticas, sendo estas essencialmente baseadas ao nível do suporte prestado e da selectividade dos empreendimentos.

O fenómeno dos spin-off’s tem vindo a crescer nas últimas décadas, mas para tal ocorreu uma mudança de cultura nas universidades e a forma como é encarado o empreendimento tecnológico em geral, sendo conduzido essencialmente por dois factores: primeiro, um crescente debate político tem levado ao aumento de pressões estatais levando os governantes a gerar condições para que nas universidades se possam comercializar propriedades intelectuais; segundo, uma mudança de cultura nas próprias universidades, uma cultura aberta, uma atitude positiva perante o empreendedorismo científico.

Laboratório é uma coluna da autoria de alunos de unidades curriculares lecionadas pelo editor deste blogue. Os textos publicados, sujeitos a edição, baseiam-se na revisão de artigos académicos.

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