2009-12-22

Vou ali mandar um meile

Há já muito tempo - anos, mesmo - que cada ida aos correios, mesmo sendo raras, me deixam num estado de perplexidade desconfortável. O que causa esse desconforto é a quantidade e variedade de produtos que hoje se encontram numa qualquer estação dos CTT, desde os omnipresentes "livros" até aos faqueiros, passando evidentemente pelas porcelanas e muita quinquilharia. Tudo isto carregado de vermelho num ar pretensamente "clean" que me faz ter saudades da austeridade duma antiga estação dos correios. E sobre esta mudança, o momento mais marcante foi quando, após ser atendido, uma simpática funcionária me perguntou se não estaria também interessado na ... lotaria! Impávido, disse-lhe que se tivesse arroz talvez me desse mais jeito. Afinal de contas, «no meio de tanto produto, por que não vender arroz também?! Teria mais sucesso do que a lotaria», justifiquei. «Que não, arroz ainda não temos», lamentou.

Desde então muito tempo se passou. Mas, afinal de contas, algum dia haveria de acontecer o que se passou há dias. Numa estação dos CTT, obviamente. O cliente prontifica-se a aguardar pela vez e, no momento de comprar selos, é informado, com um sorriso glorioso de quem atende um extra-terrestre acabadinho de chegar ao guichet, que não havia selos. «Que não. Há já muitos anos que não vendemos selos; só se tiver a carta», prontificou-se a explicar a funcionária sorridente. Para além de atónito, ficou o cliente finalmente esclarecido sobre a estratégia de diversificação dos CTT. Saia uma lotaria de Natal...
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