2010-01-23

Parque das Caldas

Netlómano ou net-dependente
Por Fernando Igreja

Já dizia o nosso ilustre Camões, mudam-se os tempos mudam-se as vontades. E realmente à velocidade a que as coisas mudam já não sei se as vontades (e as energias) conseguem acompanhar a evolução tecnológica. Há dez escassos anos a internet, embora já existente, abriu-me novos horizontes perspectivando-se como o instrumento de futuro do qual não poderíamos prescindir. Mas longe estava eu de imaginar que a dependência fosse de tal forma que viveríamos agarrados a um computador quase todo o tempo da nossa existência. Se no trabalho é ferramenta indispensável, pensava eu na altura, no nosso lar não passará de um meio de entretenimento e informação que nos permitirá ocupar as nossas horas de lazer menos dedicadas a outras actividades mais salutares. Erro garrafal!

Há já cinco longos anos que deixei de fumar, único vício que ainda persistia em não me deixar. Após o primeiro ano e com o convencimento absoluto de nunca mais pegar num cigarro, promessa que até hoje cumpri, jurei que não me tornaria dependente de mais nada e, assim, ganharia mais uma pequena liberdade individual. Longe de a minha pessoa pensar que me tornaria no que eu chamo de Netlómano ou Net-dependente. Mas assim foi.

Iniciamo-nos, como qualquer outra dependência, com a simples consulta ou entretenimento, um joguinho, uma pequena dose de Wikipédia, a consulta intermitente de um jornal ou de uma revista online. De repente aparece um motor de busca como o Google que passa a fazer parte da família e colocamos na nossa página inicial. Isso sem esquecer o Messenger e o Skype para estar ligados aos que mais prezamos. Dai para a criação de um blogue é um pequeno passo.

Até aqui tudo não passaria de um simples vício difícil de largar se não fossem os malditos sites-duros. Tentamos evita-los no início pensando que não passam de coisas voláteis e deléveis e, quando nos apercebemos que chegaram para ficar, um suposto “nosso amigo” convida-nos para nos aliarmos a uma rede social. Sem dar por ela estamos metidos no Facebook mas, como temos outros “amigos” que preferem o Hi5, não temos outro remédio que aderir e, sem nos apercebermos, estamos a ingerir Tagged, Myspace, Flirk, Meetyourmessenger, e um longo etc. que não vale a pena recordar. Agora com 44 anos consegui mais amigos online num ano do que em toda uma vida de relacionamentos interpessoais e sociais da chamada vulgar vida geo-terrena. Para dar uma ideia no tempo de escrever esta crónica foram recebidos no meu Outlook a irrisória quantia de 17 mensagens (olha, mais uma, 18). Embora algumas sejam para desejar um bom ano, como é habitual nesta época, uma proporção considerável vêm através destas chamadas redes sociais que, se puderem, para vosso bem, tentem evita-las. Conselho de um Net-ólico (ou lá como se diga). Um bom ano para todos (sem imagens de foguetes ou garrafas de champanhe a explodir).

Fernando Igreja é sociólogo. Parque das Caldas é uma coluna sobre temas locais.
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