2010-03-03

Diário de Bordo (13)


À décima terceira entrada, um azar dos grandes. O domingo começa cedo. Quando o despertador toca pelas sete da manhã, já o Simão está acordado há uma hora, "muito ansioso" para o seu primeiro passeio do Vespa Club Minho, diz ele. Pelas oito exactas, fazemo-nos à estrada, rumo ao Café Paladar, Galegos S. Martinho, em Barcelos, local do encontro. Onde somos os primeiros a chegar exactamente à hora combinada, pelas 8:30. Meia-hora depois, somos 16 vespas rumo a Ponte de Lima. A nossa era a única automática e com dois passageiros! Mau presságio?

A segunda metade do percurso Barcelos-Ponte de Lima é de sofrimento para o Simão por causa do frio, cada vez mais forte e a entranhar-se nas luvas e nos sapatos. E nem sequer as calças do pijama por dentro o livram do sofrimento. Ainda assim, já em Ponte de Lima, umas massagens nas partes frias, um bom copo de leite quente e passeios a pé pela feira de antiguidades deixam-no confortável.



Com todas as vespas expectantes no campo da feira para a fotografia colectiva. Na partida, uma aceleração maior do que o devido - seguida duma travagem brusca onde por engano activo o travão da frente - atira-nos ao tapete de terra batida cheia de pedras que engalena o campo da feira de Ponte de Lima. Recordo bem da imagem da terra - a única que retenho - e de como essa imagem ilustra um "fim". Vêm-me à cabeça três pensamentos, quase que em simultâneo: o primeiro que tinha acabado de rebentar com a "burra" que lhe ocorreu dar um grande coice como nunca tinha dado; o segundo de que era uma vergonha dar aquele trambolhão; e o terceiro, o mais importante, as consequências para o Simão que, também espalhado no chão, se queixa fortemente de dores e ralha comigo, a bem ralhar: «tu com as tuas pressas!». Aqui sim, um homem fica preocupado quando vê o filho em sofrimento, a queixar-se das pernas e dos joelhos. Deito-o no chão, retiro-lhe o capacete para ficar mais confortável. Felizmente depois de examiná-lo com a ajuda do Sérgio e do Ricardo (as outras 13 vespas tinham partido em primeiro lugar e nem sequer se aperceberam do sucedido), fica a ideia de que parece não haver fracturas.

Olho de seguida para a Vespa e, embora ela tenha sofrido menos do que o aparato da queda indicia, doi-me a alma. Uma transeunte recolhe do chão o espelho do retrovisor e entrega-mo. Encaixo-o facilmente no sítio certo e estranho como o suporte do retrovisor não partiu. Para além da principal almagadela, reparo que o porta-bagagens em aço cromado, colocado dois dias antes, se apresenta riscado. Ainda assim, terá protegido o corpo da "burra".

Feridos, e no meu caso, nervoso - talvez bem mais do que o Simão - partimos rumo a Braga, sempre acompanhados pelas 50S do Ricardo e do Sérgio, motas clássicas bem mais rápidas por possuirem motores maiores, um único passageiro e nada de silenciadores e outras modernices que retiram desempenho. O vento imensamente forte e gelado vindo de frente torna a viagem demorada e imensamente sofrível. Há momentos em que a mota não tem qualquer estabilidade! Ainda por cima numa estrada carregada de automobilistas apressados a caminho das sogras para o almoço dominical! Ocorre-me que não estamos livres de outro trambolhão.

Fica registada a sorte no meio do azar e a imensa solidariedade do Sérgio e do Ricardo. A acompanhar um dos seus. Feridos com vários arranhões, uma calcanhar a mancar durante mais de uma semana, um cotovelo com dôres, e umas almogadelas na LX50. E foi assim o registo da 13.ª entrada deste diário.
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