2010-03-10

Parque das Caldas

Travar a deslocalização
Por Vasco Eiriz de Sousa

Depois da entrada de Portugal na CEE, em 1986, muitas empresas estrangeiras escolheram o nosso país para localizarem subsidiárias. Mais recentemente, de há alguns anos a esta parte, o movimento é em sentido contrário. Ou seja, muitas empresas (estrangeiras, mas não só) abandonam o país. Por outro lado, Portugal já não é tão atractivo para investimentos estrangeiros como era nas décadas de 1980 e 1990.

Nuns casos, a saída destas empresas é mais notada por fazerem parte de negócios de consumo com grande impacto nas opções de compra das famílias e consumidores individuais. Um desses casos, foi a saída do Carrefour, maior retalhista europeu de origem francesa que vendeu os seus hipermercados ao Continente.

No entanto, muitas destas deslocalizações não geram grande alarido público pois o seu impacto negativo em termos, por exemplo, de emprego não é significativo. Isto é, são empresas que são adquiridas por concorrentes que conseguem assim aceder a novos mercados e localizações e, como tal, o número de despedimentos não é normalmente elevado. Na perspectiva dos consumidores tratam-se, contudo, de más notícias pois diminui o nível de rivalidade existente entre concorrentes, reduzindo as alternativas de escolha em termos de lojas, produtos, serviços e preços.

A saída de empresas como o Carrefour e muitas outras são decisões empresariais que devem preocupar os decisores públicos portugueses. Não só porque desaparecem importantes empresas do mercado e aumentam os índices de concentração no sector. Mas, também porque a saída de empresas como estas reflecte, em certa medida, uma manifestação de insatisfação da casa-mãe de cada uma delas com o desempenho das suas subsidiárias portuguesas.

Ou seja, se estivessem satisfeitas, alienariam os seus activos? Talvez não. Fazem-no porque o seu crescimento, rentabilidade, dimensão ou o que quer que seja, torna menos atractiva a sua presença no país. Em síntese, Portugal e tudo o que ele significa é para muitos investidores um país periférico. É-o há muitos anos, mas, o que é grave, é que há indícios de que essa periferia se está a acentuar.

A saída de empresas como o Carrefour representa uma forma de saída a que devemos juntar pelos menos outros dois tipos de saída: a de empresas industriais que deslocalizam a produção para locais com custos inferiores; e a de empresas que mantendo as suas operações comerciais em Portugal, passam a ser geridas a partir de cidades como Madrid, Barcelona ou Milão.

No primeiro caso, o de empresas industriais, tende a haver impactos negativos no emprego e exportações. No segundo caso, o impacto é economicamente menos evidente mas reflecte, ainda assim, a transferência de controlo e poder, e o aumento da dependência de distribuidores e consumidores portugueses.

São diferentes formas de saída que ilustram a menor atractividade do país. Interessaria, por isso, responder de forma plena a uma questão central para a economia portuguesa: porque é que estas empresas abandonam o mercado português?

Só conhecendo os motivos da saída é possível desencadear as políticas adequadas para travar essa deslocalização de empresas para fora do país e manter aquelas que cá estão, ou atrair novos investimentos estrangeiros.

Vasco Eiriz de Sousa é editor do blogue Empreender. Parque das Caldas é uma coluna sobre temas locais.
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