2010-04-23

Parque das Caldas

Empreender e criar empresas
Por Vasco Eiriz de Sousa

O termo empreendedorismo está na moda. Uma das razões porque isso acontece reside no seu amplo significado. Na verdade, o termo empreendedorismo é utilizado com diferentes propósitos para significar coisas aparentemente tão distintas como, por exemplo, criar o próprio emprego ou criar algo através duma inovação.

Noutras circunstâncias o empreendedorismo refere-se a uma qualquer actividade que possui determinadas características (por exemplo, o crescimento das vendas) e resultados (por exemplo, criar riqueza), ao lançamento de novos negócios ou à revitalização de empresas já existentes. Em todo o caso, o significado que talvez seja mais popular refere-se à criação de empresas.

Porque é que muitos indivíduos sentem necessidade de empreender? Há, grosso modo, dois grandes tipos de incentivos à actividade empreendedora. Um deles é de natureza económica e o outro é de natureza social e psicológica. Entre os incentivos de natureza económica encontramos factores como, por exemplo, a propensão para criar riqueza, criar o próprio emprego ou satisfazer uma necessidade de mercado. Os factores de ordem social e psicológica que incentivam os empreendedores resultam geralmente da sua vontade em serem autónomos, realizarem-se pessoalmente associando a actividade empreendedora ao seu estilo de vida e, não raras vezes, desenvolverem actividades altruístas.

Quais destes factores são mais importantes? Todos eles são importantes e tudo leva a crer que os empreendedores melhor sucedidos são incentivados simultaneamente por factores económicos, sociais e psicológicos. Estes incentivos complementam-se e permitem criar a energia necessária para os empreendedores vencerem os desafios que se colocam a si próprios.

Os empreendedores são geralmente ambiciosos e procuram atingir os seus fins com método e determinação, pensam no longo prazo, questionam constantemente formas de pensar e agir, têm uma profunda orientação para o mercado, dão importância aos detalhes da implementação dos projectos, e querem melhorar continuamente. São, em síntese, espíritos inquietos.

Na disciplina de Empreendedorismo de que sou responsável na Universidade do Minho, ao longo dos últimos anos tenho avaliado largas dezenas de projectos de criação de empresas. Nessa avaliação aplico seis critérios: probabilidade de sobrevivência do negócio; seu potencial de resultados; qualidade, originalidade e execução da ideia de negócio; mecanismos de protecção da concorrência; gestão dos recursos; e potencial de crescimento do negócio. Estes critérios são todos eles importantes. A excelência num deles não permite deficiência noutro qualquer.

Os resultados obtidos mostram claramente que os potenciais empreendedores na fase final dos seus cursos universitários são excelentes em termos da originalidade e qualidade das suas ideias de negócio. É certo que por vezes o excesso de originalidade esconde utopias sem aderência à dura realidade do mercado mas, em média, é este o critério em que existe melhor desempenho. Sem surpresa, onde existem maiores fragilidades é ao nível da gestão dos recursos e do potencial de crescimento do negócio.

Decorrente desta avaliação e da minha experiência na formação em empreendedorismo, estou em crer que um dos principais desafios que se colocam hoje aos jovens é a sua entrada no mercado de trabalho ou, para ser mais preciso, o ganho de experiências profissionais que lhes permitem desenvolver competências diversificadas que o sistema de ensino tem dificuldade em transmitir.

Daí que numa sociedade caracterizada por taxas de desemprego nos escalões etários mais jovens que reputaria de escandalosas, me pareça ser cada vez mais importante procurar alternativas de emprego e experiência profissional prévias. Idealmente, esta experiência paralela ao percurso escolar – obtida através de múltiplas modalidades – deverá possibilitar a aquisição de competências difíceis de obter na escola e, simultaneamente, estimular uma aprendizagem mais eficaz no ensino superior. Parece-me que só assim os mais jovens conseguirão desenvolver-se de forma mais completa para, mais tarde, terminados os seus estudos superiores, estarem em melhores condições de enfrentar o mercado de emprego que já conhecem, continuando a empreender e eventualmente criando empresas com sucesso.

Vasco Eiriz de Sousa é editor do blogue Empreender. Parque das Caldas é uma coluna sobre temas locais.
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