2010-07-12

Diário de Bordo (18)

A saída de Braga rumo ao Vespa Word Days 2010, em Fátima, ocorreu precisamente pelas 5:30 horas da madrugada, horário motivado pela necessidade de aproveitar a frescura da aurora. Mas não tanta frescura como a que acabaria por sentir. Na chegada à Maia, o nevoeiro surge intenso, inunda os óculos e impede a visibilidade.

Eram 6:30 horas da manhã. Tinham decorrido escassos 46,3 kms quando a Vespa é obrigada a encostar na berma, precisamente do outro lado da estrada junto do stand MC Coutinho da Ford que existe na Nacional 14. Só no regresso é possivel reparar que o estacionamento foi mesmo à porta da Rádio Popular, algo que o nevoeiro e a escuridão não deixaram ver. Ao sentir os camiões e os carros passar a escassos metros, barulhentos e com velocidade, perguntei-me se teria mesmo que voltar para o meio deles. A sensação de perigo, a densidade do nevoeiro e a escuridão deram-me vontade de voltar para Braga, tanto mais que a temível Via Norte se encontrava próxima. Mas como iria explicar esta desistência à família, depois de tanto tempo e expectativas criadas?

Felizmente, uns dias antes,- certamente influenciado por alguma noção do perigo e pelo conselho amigo do Jorge Nande que me desaconselhou a viagem, pelo menos com o Simão -, tinha tido o bom senso de convencer o Simão a deslocar-se para Fátima de carro. Para além do perigo, o argumento foi a capacidade da Vespa, já por si reduzida para suportar uma longa viagem de 300 kms com duas pessoas (o pudor recomenda indicar somente o nosso peso médio, a ultrapassar ligeiramente os 65 kg, o Simão que me perdoe) e carga (saco de 4,7 kg no porta-bagagem da frente e mochila com menos de 2 kg suportada no guiador).



O saco do porta-bagagens carregava na bolsa principal t-shirts (5), calções interiores (5), uns ténis, meias (2 soquetes e 4 normais), uns calções, um pijama, material de higiene (espuma da barba, uma lâmina, "after-shave", duas escovas de dentes - a minha e a do Simão-, e pasta de dentes), e a Canon. Num dos bolsos laterais seguia medicação para a coluna (Voltaren, Valium, Zemalex e a poção mágica de nome desconhecido que me curou no última ataque de hérnia discal). No outro bolso lateral ía o carregador de telemóvel, um segundo par de óculos e dois sacos plásticos para guardar a roupa suja. Na mochila seguiam na bolsa principal um envelope almofadado com uma declaração amigável de acidente, e alguns "prints" obtidos no Google Maps que nunca viria a utilizar. Este envelope tinha ainda a particualridade de ter escrito a vermelho o número da apólice do seguro da Vespa, o telefone de contacto da assistência em viagem, o telemóvel da Natália, o telemóvel do Vasco Correia da Silva do Offramp... com quem combinei encontro, e quatro linhas com os seguintes dizeres: Braga-Gaia 65 km N14/N12; Gaia-Coimbra 120 km N1/IC2; Coimbra-Leiria 70 km N1/IC2; Leiria-Fátima 25 km N113/N357. Nessa bolsa - a principal - levava ainda uma garrafa de meio litro de água e um rolo de papel higiénico. Numa das quatro pequenas bolsas da mochila - a do lado direito, onde daria menos sol - seguiam 2 maças, e meio pacote de bolachas Maria. Num outro bolso lateral seguia a máquina fotográfica Sony. A carteira com documentos e dinheiro ocupava um outro pequeno bolso central da mochila. E o quarto bolso, também central, levava o telemóvel, uma caneta e um pequeno bloco de notas. No porta-luvas seguiam o Documento Único Automóvel da Vespa, e a carta verde. Finalmente, por debaixo do assente ía somento o capacete do Simão.

E com toda esta carga a pesar aproximadamente 6 kg (mais os 65 kg de média, não esquecer), iria agora desistir e regressar, qual cobardolas-medriquinhas?! Nem por sombras. Siga em frente para a Via Norte que se faz tarde. [continua]


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