Depois da entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia em 1986, muitas empresas estrangeiras escolheram o país para localizarem subsidiárias. De há alguns anos a esta parte, o movimento é em sentido contrário. Ou seja, muitas empresas (estrangeiras, mas não só) abandonam o país. Por outro lado, Portugal já não é tão atractivo para investimentos estrangeiros como era nas décadas passadas. O país deixou de ter custos baixos – fundamentalmente aquilo que nos distinguia na Europa – e, por outro lado, não desenvolveu outros factores de atratividade.
Nuns casos, a saída das empresas é mais notada por fazerem parte de negócios de consumo com grande impacto nas opções de compra das famílias e consumidores individuais. Um dos casos mais notório dos últimos anos, foi a saída, em 2007, do Carrefour, maior retalhista europeu de origem francesa que vendeu os seus hipermercados ao seu principal rival no mercado, o Continente.
No entanto, muitas destas deslocalizações não geram grande alarido público pois o seu impacto negativo em termos, por exemplo, de emprego não é significativo. Isto é, são empresas que são adquiridas por concorrentes que conseguem assim aceder a novos mercados e localizações e, como tal, o número de despedimentos não é normalmente elevado. Na perspectiva dos consumidores tratam-se, contudo, de más notícias pois diminui o nível de rivalidade existente entre concorrentes, reduzindo as alternativas de escolha em termos de lojas, produtos, serviços e preços.
A saída de empresas do país são decisões empresariais que devem preocupar os decisores públicos. Não só porque desaparecem importantes empresas do mercado e se reduz o emprego. Mas também porque aumentam os índices de concentração nos seus sectores de atividade, levando a que uma única empresa ou um conjunto reduzido de concorrentes assumam um poder por vezes excessivo e prejudicial para os clientes.
Por outro lado, a saída de empresas estrangeiras reflecte, em certa medida, uma manifestação de insatisfação das suas casa-mãe com o desempenho das suas subsidiárias portuguesas. Ou seja, se estivessem satisfeitas, alienariam os seus activos? Talvez não. Fazem-no porque o seu crescimento, rentabilidade, dimensão ou o que quer que seja, torna menos atractiva a sua presença no país. Em síntese, Portugal e tudo o que ele representa é para muitos investidores um país periférico. É-o há muitos anos e há indícios de que essa periferia se esteja a acentuar.
Para além da saída de empresas distribuidoras e de empresas industriais que deslocalizam a produção para locais com custos inferiores, há um outro fenómeno não menos importante, ainda que bem menos visível: o da saída de empresas que, mantendo as suas operações comerciais em Portugal, passam a ser geridas a partir de cidades como Madrid, Barcelona ou Milão.
No caso das empresas industriais, tende a haver impactos negativos no emprego e exportações. Nos casos de mudança da sede, o impacto é economicamente menos evidente mas reflecte, ainda assim, a transferência de controlo e poder, e o aumento da dependência de distribuidores e consumidores portugueses.
São diferentes formas de saída que ilustram a menor atractividade do país. Interessaria, por isso, responder de forma plena a algumas questões centrais para a economia portuguesa: porque é que estas empresas abandonam o mercado português? Será simplesmente porque Portugal já não é um país de custos baixos? Será por causa da reduzida dimensão do mercado português? Que outros factores levam as empresas a não se sentirem atraídas pelo país e a saírem daqui para fora?
Na verdade, para além de algumas generalidades, não conhecemos de forma satisfatória, a resposta a estas questões. Só conhecendo os motivos da saída é possível desencadear as políticas adequadas para travar a deslocalização de empresas para fora do país e manter aquelas que cá estão. E isso ajuda também a atrair novos investimentos estrangeiros de forma mais duradoura.
Artigo publicado no Jornal de Barcelos, 18 de janeiro de 2012, p. 22.