Ao professor doutor já lhe tinham pedido pareceres para isto, para aquilo e para aquele outro. Sobre tudo e sobre mais alguma coisa. Só não lhe tinham pedido um parecer sobre a lei da gravidade. O que é grave. De resto, já lhe tinham pedido de tudo. Recorrentemente pedem-lhe ainda para preencher plataformas, questionários, requerimentos, intranetes, internetes, validar aqui, validar acoli, e muitos ducs, muitos ducs (para os menos informados das dinâmicas pedagógicas, um duc é um dossier da unidade curricular). Impávido e sereno assistiu inclusive a um corte no seu salário de 30 por cento! Até aqui tudo bem, o professor doutor aguentou e mantinha a força para ir à luta. Patriota, manteve-se no seu posto. Se necessário, estava até disposto a aguentar duas troikas, três resgates e quatro planos cautelares.
Mas nunca pensou que se chegaria a este ponto! A propósito dumas parcas obras em resultados e longas em incómodo, pediram-lhe para fazer um croqui. Assim mesmo chamado. Sim, isso mesmo, o leitor repare bem: um croqui do seu gabinete. É demais, pensou! Um croqui de um gabinete com uns escassos artefactos!! Repare mesmo bem, ilustre leitor: um croqui!!! É impressionante. Ele sentia-se capaz de suportar toda a austeridade reinante. Estóico, estava até disposto a sacrificar-se ainda mais. Jamais se renderia. Mas nunca pensou que tudo isto chegaria ao ponto de lhe pedirem um … croqui.