2014-05-26

Bizantinices!

Embora um Senado Universitário pareça um desperdício inconsequente de tempo, não mais do que um guichet para carimbar propostas, um certo ritual organizacional na conduta universitária, não quero deixar passar este texto inteligente.

«O poder centralizado coexiste mal com a existência de um senado livre, ecléctico e interventivo. Lembro que os senados procuram, em teoria, replicar a reunião de competências numa assembleia de pares, livres de tutela, experientes, isentos, que na Roma Antiga se reuniam para tratar da Res Publica, constituindo em certo período histórico o mais alto fórum da magistratura romana. O senado foi perdendo importância à medida que os interesses do poder imperial e o parecer dos senadores chocavam entre si. Sobreviveu, docilizado, pelo menos até ao século XIII (no império romano do oriente), mas tornou-se irrelevante para a condução da política bizantina. Em função do eco que não tenho ouvido dos conselhos dos senadores, atrevo-me a considerar que, o actual Senado Universitário tem, para a academia, uma importância mais próxima da que ostentava, no fim, o senado bizantino. Bizantinices! Colegas, o poder sem contestação pode parecer eficaz, quando acerta. Quando erra não deixa margem de reparação, e erra com frequência, porque fica sem os sensores de realidade que as opiniões livremente expendidas constituem, embora eventualmente divergentes e incómodas! A autonomia não se pede, conquista-se. Deriva da decisão pessoal, da expressão da vontade, da assunção de objectivos próprios e da aceitação consciente dos incómodos e sacrifícios que frequentemente acarreta. Escolher senadores não-alinhados com o poder em funções é a atitude consequente, correcta, imperativa mesmo. Há algo de profundamente errado com um sistema em que a competência dos serviços de apoio é entravar! Manter a instituição a funcionar significa mesmo, muitas vezes, agir apesar da burocracia. O que tem a dizer o Senado? Que Senado desejamos ter? [...]» (Mensagem de correio electrónico de António Alberto Caetano Monteiro, Professor Auxiliar do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Minho, 22 de Maio de 2014)
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