2015-09-19

Isto é tudo muito bonito, mas

Quando há vários meses um colega me relatou alguns episódios sobre o funcionamento da universidade e a insuficiência do apoio dos serviços no horário pós-laboral, pareceu-me um exagero da sua parte e não quis acreditar inteiramente no que me contou. Contudo, no passado ano letivo, quando assumi uma unidade curricular em horário pós-laboral senti também algumas insuficiências nesse apoio. Talvez por terem sido poucas aulas dei um desconto a essas limitações mas lembrei-me dos relatos do meu colega.

Só hoje - sábado pela manhã, ligeiramente antes das 9:00 horas, horário agendado para um mestrado - é que percebi efetivamente o alcance do que me tinha sido relatado e pude concluir, triste e revoltadamente, que algumas coisas eram mesmo verdade e paradoxais: salas fechadas, sem acesso; corredores escuros, sem iluminação; portas do edifício sem acesso, indevidamente encerradas; falta de qualquer apoio administrativo ou logístico, quanto mais não fosse para abrir a sala de aula.

Depois de alguns contatos de remedeio com os seguranças para resolver o problema com que eu e vários estudantes nos confrontamos compreendi o que a casa gasta nestes horários: o apoio para provavelmente algumas centenas de estudantes e vários professores reduz-se a um estudante que é "contratado" para assegurar os serviços que habitualmente a universidade possui no horário de expediente normal! Não quis acreditar e entabulei depois uma breve conversa clarificadora com esse jovem de serviço: era efetivamente um estudante e hoje foi o seu primeiro dia na tarefa, o que talvez tenha justificado as insuficiências e insegurança que lhe senti.

Se a universidade quer funcionar em horários pós-laborais - sábados ou quaisquer outros horários fora do comum - tem que ter condições. Não pode improvisar desta forma. Se pegou a moda de contratar um estudante para assegurar os serviços que cabem aos funcionários não docentes prestar, a questão que se coloca é simples: seria por acaso aceitável contratar estudantes para substituir os docentes na sua função? Certamente que não. Ninguém imagina isso. Então porque não são estes serviços de apoio prestados por quem tem essa obrigação na universidade? Terá a universidade os recursos e organização necessárias para fornecer cursos fora do horário diurno de segunda a sexta-feira?
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