2016-02-02

Um diamante para o território



O que torna um território mais competitivo do que outro? Por exemplo, até que ponto a região entre o rio Minho e o rio Lima é mais ou menos competitiva do que a região do Tâmega, do Ave ou do Cávado? O que torna uma cidade ou uma vila mais competitiva e atractiva do que outra?

Estas são questões com que provavelmente o leitor já se confrontou. Quando avaliamos a maior ou menor atratividade dum local, seja ele uma freguesia, uma região, um país ou qualquer outro território, perguntamo-nos o que distingue um local de outro. A questão é importante porque nos ajuda a compreender o que está na base do desempenho de um território. Ajuda-nos igualmente a formular políticas públicas de âmbito local, mas também a tomar decisões nas organizações com que convivemos diariamente, sejam elas empresas ou qualquer outro tipo de entidade.

A interpretação mais apelativa para compreender os motivos por que um território é mais competitivo do que outro foi proposta por Michael Porter no seu modelo da vantagem competitiva das nações, popularizado com o nome de Diamante de Porter. O modelo foi desenvolvido e aplicado para compreender por que motivo um país é mais competitivo do que outro, mas, na verdade, ele pode ser aplicado a outros territórios como os anteriormente referidos.

Vejamos exemplos que têm tanto de original como de enigmático. Por que motivo Portugal é um país com competências reconhecidas na confecção e consumo do bacalhau apesar de este peixe não existir nas nossas águas? Por que razão existe à volta da cidade de Felgueiras uma forte indústria de calçado, apesar de a vizinha Guimarães ser tradicionalmente um concelho mais industrializado? Por que motivo o Alvarinho de Monção e Melgaço é melhor? Por que existe tradicionalmente em Valença um comércio mais forte? Por que Viana do Castelo e Ponte de Lima atraem turistas?

As respostas parecem simples, mas não são. Se fosse matéria simples, não seria difícil para um concelho ou para uma região formular políticas que melhorassem a sua competitividade, aferida pela atratividade que ela gera.

A resposta a este problema está no Diamante de Porter, que identifica quatro motivos para um território possuir vantagem sobre outros territórios: condição dos fatores; condições da procura; existências de sectores relacionados e de apoio; e estratégia, estrutura e rivalidade existente entre as empresas.

No primeiro motivo – a condição dos fatores – está em causa a base de recursos do território, sejam eles o petróleo, o sol, o conhecimento, as infraestruturas físicas e tecnológicas, a mão-de-obra, o capital, etc., etc. Por exemplo, a geografia justifica que a Suíça nunca será um país atrativo para turismo de praia no verão, da mesma forma que Portugal nunca conseguirá ser forte em turismo de montanha no inverno. Noutro exemplo, dificilmente um território conseguirá desenvolver uma economia de grande valor acrescentado e tecnologicamente intensiva se não tiver uma base de conhecimentos e engenharia também forte.

O segundo motivo – condições da procura – tem a ver com as características dos mercados locais. Por exemplo, um mercado grande, exigente e sofisticado nos seus hábitos de consumo, com propensão para experimentar coisas novas, favorece a inovação e o desenvolvimento de novos produtos e ofertas que vão de encontro àquilo que ele quer. Não resisto a dar o exemplo da confecção e consumo do bacalhau em Portugal. Apesar de o país não possuir o peixe nas suas próprias águas, não há no mundo quem cozinhe tão bem o bacalhau e de formas tão diversas e ricas como se faz em Portugal. Por que será? Pois bem, isso acontece em parte porque adoramos o bacalhau, somos exigentes com ele e comemo-lo como ninguém no mundo, tanto em quantidade como em sofisticação. Criou-se uma cultura em torno do bacalhau, traduzido nas inúmeras formas de o cozinhar e consumir.

O terceiro motivo – existências de sectores relacionados e de apoio – baseia-se no facto de que um território necessita ter sectores que se apoiem reciprocamente e se relacionem, estimulando a inovação ou efetuando ofertas integradas e complementares. Por exemplo, no turismo não é possível um território ser atrativo se possuir um excelente sector para alojamento mas não existir um sector de restauração condizente ou ofertas de entretenimento e ocupação de tempo livre para os turistas.

O quarto motivo – estratégia das empresas, estrutura e rivalidade existente entre elas – tem a ver com a forma como as empresas se comportam. Se, por exemplo, as empresas forem apáticas e estiverem habituadas a usufruir de mercados monopolistas com rendas elevadas, não terão um incentivo a inovar e a tornar-se competitivas. Se, pelo contrário, existirem níveis de rivalidade empresarial que fomentem a inovação e desenvolvimento de novas ofertas, o território dessas empresas tornar-se-á também ele mais atrativo.

Os quatro fatores são importantes. O sucesso num deles – por exemplo, a abundância de recursos naturais – não permite complacência nos restantes fatores. Cabe aos decisores públicos e privados equacionar a base da atratividade do território, e explorar o seu potencial e competitividade gerindo estes quatro fatores.
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