SECA, EMPREGO E O MEDO DE EXISTIR. O Financial Times publicou ontem um suplemento sobre Portugal. O Canal de Negócios já leu e fez, também ontem, o resumo nos seguintes termos: "O «Financial Times» publicou na sua edição de hoje um dossier especial sobre Portugal, onde diz que o país precisa de mais sacrifícios para atingir os objectivos ambiciosos a que se propõe, e que os próximos tempos serão difíceis se o Governo de Sócrates concretizar as promessas efectuadas. No dossier, com seis páginas dedicadas a Portugal, o diário britânico começa por dizer que os dois principais desejos actuais dos portugueses são chuva e empregos. O artigo assinado pelo correspondente do FT em Lisboa, Peter Wise, refere que Portugal está a sofrer um dos períodos de seca dos últimos anos e que o desemprego no nosso país tem subido mais do que em qualquer outro estado membro da União Europeia. Se os portugueses não esperam que Sócrates faça chover, o plano do primeiro-ministro de criar 150 mil empregos na actual legislatura será um dos testes chave do Executivo, que tem a margem de manobra e a principal ferramenta (maioria no Parlamento) para fazer o seu trabalho. «Depois de 16 Governos em 28 anos, quatro primeiro-ministros nos últimos quatro anos e ainda mais ministros em pastas de Governo chave, Portugal tem agora uma oportunidade de estabilidade política que é vista como um pré-requisito para efectuar as adiadas reformas económicas», refere o diário. Vítor Bento, economista e presidente da SIBS, afirmou que os portugueses «ainda não compreenderam as dificuldades que o país atravessa». «Temos que resolver problemas estruturais sérios, que vão necessitar de medidas duras por um longo período», disse a mesma fonte ao FT, alertando que «estas não vão produzir nenhum benefício tangível no curto prazo». António Carrapatoso, presidente da Vodafone Portugal e um dos responsáveis do Compromisso Portugal, avisa que o «desemprego vai piorar nos próximos dois a três anos, e se o Governo implementar as reformas necessárias, a pressão vai ainda ser maior». No dossier especial o FT traça o perfil de Luís Campos e Cunha, José Sócrates e Diogo Freitas do Amaral. O ministro das Finanças é classificado como um peso «pesado nas Finanças e leve na política», o primeiro-ministro é um «corredor pronto para a subir a colina». O FT faz ainda mais artigos, realçando a importância da reforma do mercado de trabalho para o crescimento económico e de Portugal ter saído das «sombras», tendo agora maior relevância no panorama internacional." Falta-nos agora ler o suplemento, mas, em todo o caso, parece confirmar-se que algum distanciamento (cultural e geográfico) ajuda a fazer interpretações simples e verdadeiras. Neste caso, imagina-se, parece tratar-se duma leitura temperada pelo humor e realismo britânico. Um outra leitura de Portugal feita à distância foi a de José Gil, algures em França. Em Portugal Hoje - O Medo de Existir, leitura pascal deste ano, o autor, sendo um português residente em França, não estará tão distante. Algo que não o impede de efectuar um retrato demolidor do país. Haja tempo e paciência e voltaremos a este livro em melhor oportunidade.