2006-06-08

Editorial
Opções da economia

A decisão do ministro da economia em contrariar a posição da Autoridade da Concorrência sobre o negócio das auto-estradas é grave. Muito grave. Para os menos atentos, a coisa é simples de contar. A Brisa, empresa tradicionalmente monopolista no sector de exploração de auto-estradas em Portugal, detém uma pequena percentagem do capital da Auto-Estradas do Atlântico, empresa que explora a A8. A A8 é uma auto-estrada que concorre directamente com a A1, a principal auto-estrada do país e, quase de certeza, a mais lucrativa. Não é por isso preciso estudar muito para compreender que a A8 e a A1 não deveriam ser propriedade da mesma empresa. Ao ir contra a posição da Autoridade da Concorrência e ao permitir que a Brisa compre a sua empresa rival e volte a ser novamente monopolista, o ministro termina com a incipiente concorrência no mercado em causa e, mais grave ainda, dá um sinal negativo ao país. Dá o sinal de que o mau corporativismo que está enraizado na nossa cultura empresarial de há décadas a esta parte continua a ter campo para florescer e, paradoxalmente, contribui para que todas estas empresas fiquem mais frágeis. O ministro quis ontem justificar a sua decisão com um suposto interesse económico que ninguém percebeu e sobre o qual vai ter que inventar a quadratura do círculo. Fica, evidentemente, a suspeita sobre quais foram os verdadeiros interesses que motivaram a decisão. Sobre os interesses cruzados entre a política e os negócios já há meses se tinha comentado que a decisão deste Governo em construir o aeroporto da OTA favoreceria imenso o grupo Espírito Santo, no qual este ministro foi gestor de topo! Fica novamente a suspeita sobre os motivos que levaram a tão gravosa decisão. Empreender pergunta-se se Pinho terá consultado Sócrates sobre a decisão. Acreditamos que sim. Mas o que terá dito Sócrates? Apoiou ou, como suspeitámos, deu carta branca a quem não pode ter carta branca? Pinho tem que se explicar mas Sócrates não deve menos explicações.
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