2007-05-04

EmpreenLer

Quem sabe, sabe
Por Pedro Chagas Freitas

Acordei, hoje, com uma ideia bem definida: não falar mal de nenhuma pessoa. Terei, por isso, de falar mal do Cláudio Ramos.

E perguntar-me-ão os nobres leitores, nesta altura, duas coisas muito simples: 1. por que é que eu, depois de muita insistência da parte dela, acabei por aceitar passar uma noite com a Soraia Chaves? 2. por que raios é que, num texto sobre leitura, se vai falar no Cláudio Ramos?

Ora, meus amigos, se em relação à primeira pergunta a resposta é simples – “quando não há pão até migalhas vão”, lá diz o povo na sua velha e imensa sabedoria, e, neste caso, depois de a Sharon Stone me ter abandonado durante alguns dias fui obrigado a ceder às asfixiantes pressões da pobre da Soraia –, já no que concerne à segunda questão a resposta é mais complexa. Aliás, o próprio espécime em questão é complexo, uma vez que se torna complicado de discernir quando é que está a falar e quando é que está a cacarejar. Por vezes, imagine-se, fico com a impressão de que faz ambas em simultâneo. Enfim, loucuras, certamente, da minha parte.

Regressando ao tema em questão: fique a saber, caso ainda não saiba, que Cláudio Ramos tem obra publicada. E eu, sempre atento, resolvi comprá-la de imediato. Nunca se sabe quando haverá uma crise ao nível do papel higiénico – sempre fui da opinião de que papel assim tão fofo a preços tão acessíveis é bom demais para ser verdade – e gosto de estar sempre prevenido.

Ainda assim, num assomo de coragem só comparável à de todos aqueles que ousam enfrentar sem óculos de sol o reflexo provindo dos dentes do Paulo Portas, resolvi abrir o livro. E olhar, efectivamente, para o que lá estava. Foi então que senti que havia cometido um erro. Ou melhor: a editora havia cometido um erro. Optar por mais espaços ocupados com letras do que espaços em branco é pouco menos que imperdoável – todos sabemos os problemas, ao nível das manchas negras que deixa na pele das nádegas, que a tinta pode acarretar. Até porque, pelo facto de não estar colocado em rolo, o livro acaba por perder muito em relação à concorrência. Só depois de ter olhado para o nome da editora e não ter encontrado a palavra “Renova” é que percebi que quem sabe, sabe. E o Cláudio Ramos não sabe.

Pedro Chagas Freitas, autor da coluna EmpreenLer, escreve. Há alturas, porém, em que consegue arranjar tempo para viver. Felizmente para o bem-estar de quem o rodeia, esses momentos são cada vez mais raros. Mais informações em www.pedrochagasfreitas.pt.vu
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