2007-09-06

Uma perspectiva da deslocalização

Recentemente decidi-me adquirir um microgravador. Desinformado pensei que ficaria pela Sony mas depois dumas pesquisas e conselhos escolhi um Olympus. Se o leitor tiver a paciência de pesquisar microgravadores na página da Olympus verificará que neste tipo de produto a empresa só peca por excesso, tantas são as alternativas e modelos.



Bonito

Escolhido o modelo – curiosamente um dos mais caros – e não sendo possível identificar os retalhistas da empresa em Portugal através da sua página na internet, enviei uma mensagem electrónica. Rapidamente a resposta identificou três retalhistas na minha cidade. Curiosamente, todos eles casas de fotografia, como não seria de estranhar. Feitos os contactos, também não foi surpresa constatar que nenhuma destas casas tinha o produto em existências. Depois de encomendado passaram-se várias semanas sem o microgravador chegar.

Pois bem, já todos ouvimos falar na Olympus. Mas, para que não nos iludamos sobre a forma como algumas grandes empresas abordam o mercado português, fique o leitor a saber que só na sexta-feira de cada semana é que a "subsidiária" portuguesa desta empresa consegue informar os seus retalhistas dos produtos que lhe vai entregar na semana seguinte. Enfim, um autêntico Euromilhões como eu tive oportunidade de constatar durante algumas semanas. Não resisto em comentar com o retalhista o estupefacto que estou com esta forma de trabalhar, tratando-se ainda por cima de uma empresa destas e de um produto – de consumo é certo – mas cujo preço de venda final rondava os 280 euros. Plena concordância do outro lado: que a Olympus sempre funcionou impecavelmente mas desde que a operação portuguesa passou a ser gerida em Espanha, este tipo de problemas tem sido frequente.

Com pena, compreendi uma vez mais que voltava a ser vítima de pertencer a um mercado periférico. Cada vez mais, muitas empresas colocam o mercado português na alçada da sua subsidiária ibérica e, em muitos casos, duma divisão para a Europa do Sul. Quando assim é, as operações são controladas em Barcelona, Madrid ou Milão. Esta não foi a primeira vez que isso me aconteceu e é certamente algo que ocorre com muitos consumidores portugueses.

No caso presente, a situação é tanto mais paradoxal se atendermos a que existem vários distribuidores de grande dimensão instalados em Portugal, onde não falta exactamente o mesmo produto que encomendei. Dito de outra forma, a "subsidiária" portuguesa nem sequer consegue fornecer o produto, enquanto outros retalhistas, como Fnac ou Media Markt, beneficiando de importações paralelas (ou, se preferirem, "grey markets") conseguem ter uma capacidade de resposta incomparavelmente superior. Agora, resta-me esperar que o raio do micro-gravador não avarie!!!
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