2007-10-05

EmpreenLer

Partido(s)
Por Pedro Chagas Freitas

Não sou, admito, fã do National Geographic e de programas sobre a vida selvagem. Mas, tenho de o confessar, tenho-me divertido bastante com os recentes acontecimentos do CDS-PP. Sobretudo porque me trazem à memória os saudosos tempos em que, também eu, não sabia o que haveria de fazer para ganhar a vida. Mas chega de falar do Paulo Portas.

A questão fulcral – e que deve, desde já, ser colocada – é a seguinte: será que o Pires de Lima está perfeitamente consciente de que não usar uma frondosa franja lhe pode estar a prejudicar a ascensão política dentro do partido? É sabido – e evidente a olho nu – que essa é uma das condições sine qua none para ingressar no CDS-PP. Espanta-me, até, que não exista uma espécie de porteiro, à entrada de cada congresso – munido de lupa e de amaciador capilar –, a verificar se os congressistas possuem, ou não, duas condições elementares: 1. um bronzeado estranhamente amarelado; 2. um cabelo estranhamento fofo e liso. Pires de Lima – as câmaras de televisão mostram-no de forma inexorável – não cumpre qualquer um dos requisitos. E é por isso, parece-me, que jamais poderá almejar ser líder do seu partido. Não é caso único entre as principais figuras do recente imbróglio. Maria José Nogueira Pinto terá, tenho a certeza, destino semelhante. Também ela não poderá, algum dia, ser líder do seu partido. Porquê? Porque – parecendo que não – é uma mulher. E porque – parecendo que não – o CDS-PP nunca teve um líder feminino. E porque – parecendo que não – o CDS-PP é um partido conservador. E porque – parecendo que não – eu sou parvo. E porque – parecendo que não – esta construção frásica já me começa a irritar.

Sobra, então, a figura de Ribeiro e Castro. Não é por acaso, certamente, que o deixo para o fim. O antigo líder do CDS-PP está tão acostumado a ficar em último lugar que eu não quis, por uma questão de bom-senso, alterar-lhe a rotina. Escusas de agradecer, ó Ribeiro.

Mas o mais interessante, sob um ponto de vista analítico, é perceber que os meios de comunicação social televisivos estão, de forma descarada, a ostracizar Paulo Portas. Só assim se explica que, agora mesmo, o líder do CDS-PP tenha entrado em directo para proferir um discurso de auto-defesa e, de imediato, o ecrã tenha ficado branco. Já mudei de canal e nada. Branco. Em todos as estações televisivas, estranhamente, as imagens limitaram-se a mostrar uma enorme e reluzente mancha branca. Até que o Paulo Portas, finalmente, parou de sorrir e fechou a boca.

Pedro Chagas Freitas, co-autor da coluna EmpreenLer, escreve. Há alturas, porém, em que consegue arranjar tempo para viver. Felizmente para o bem-estar de quem o rodeia, esses momentos são cada vez mais raros. Mais informações em www.pedrochagasfreitas.pt.vu
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