2007-12-08

EmpreenLer

A problemática da fila indiana
Por Pedro Chagas Freitas

Por um mistério insondável com que o destino, aqui e ali, faz questão de nos presentear, encontrei-me, esta semana, a assistir a um concerto dos tão famigerados DZR’T. Ora, este facto, para além de comprovar indelevelmente o enorme poder que as drogas ditas “leves” exercem sobre o cérebro humano – retirando-lhe, na sua quase totalidade, o discernimento –, fez com que eu me debruçasse, durante alguns curtos mas proveitosos segundos, sobre a problemática – está-se mesmo a ver – da fila indiana.

Uma fila indiana é, como o leitor – por um motivo ou por outro – com certeza saberá, um grupo de criaturas colocadas umas atrás das outras. Contudo, e no caso de todas essas criaturas serem homens, uma fila indiana é – regra geral – uma festa organizada pelo Cláudio Ramos. Há, obviamente, excepções a esta última regra. Uma fila indiana pode, em situações esporádicas – sempre que a casa do Cláudio Ramos está em obras –, ser uma festa organizada pelo Joaquim Monchique. Mas, convém não deixar dúvidas neste ponto, com a presença do Cláudio Ramos.

Depois deste complexo preâmbulo, o leitor estará, certamente, a reflectir de forma profunda sobre duas questões fundamentais: 1) a pouca ou nenhuma influência que a lei da gravidade parece exercer sobre os seios da Marisa Cruz; 2) a escolha, sempre intrincada, do isqueiro que melhor sirva o objectivo de queimar esta folha de jornal. Mas regressemos à fila indiana. Ou melhor, regresse o nobre leitor, se assim o pretender – e se for seu desejo um dia pertencer ao jet-set português –, à fila indiana. Eu não sou dado, perdoem-me o conservadorismo exacerbado, a essas modernices.

Uma problemática bastante relacionada com a da fila indiana, e que não poderia deixar de abordar, é a da distinção de raça que nela está implícita. Para a estudarmos de forma mais aprofundada, nada melhor do que pesquisar a sua origem, recorrendo, para tal, a historiadores completamente credíveis – e, admito, também ao José Hermano Saraiva. Assim, constatamos que esta denominação provém do facto de os índios, nos seus rituais e danças ancestrais, se agruparem dessa forma, o que – e não sei como nunca ninguém teve a coragem, até hoje, de o dizer ao mundo – potencia a emergência de duas conclusões que revolucionarão, de ora em diante, todos os estudos sociológicos que se venham (os estudos) a efectuar: 1) a homossexualidade não é, ao contrário do que muitos advogam, um fenómeno recente e cuja génese se centrou no mundo ocidental; 2) a origem dos escuteiros fica, desta forma, completamente explicada.

Ultrapassado o breve excurso que acabei de apresentar, é tempo de regressar à distinção racial latente à expressão “fila indiana”. Para tal, e uma vez que já esmiucei, com alguma profundidade, o significado e origem da vertente indiana da fila, é de premente importância apresentar, em traços genéricos, os restantes géneros deste acto tão próprio dos humanos – embora, por vezes, e segundo me foi confidenciado por Sabuté Caxabé (um velho amigo de infância), o próprio Bonga também o faça. Eis, então, uma breve súmula das características dos principais tipos de fila:

Fila africana – bastante semelhante à indiana, apresentando, somente, uma diferença: o espaço entre os vários integrantes é – por razões evidentes a corpo e (embora desta forma possa ser extremamente doloroso) a olho nu – bastante maior. Em alguns pontos do planeta este tipo de fila é também denominado de “Fila Alexandre Frota”.

Fila Branca – fila em que não é perceptível a organização e o posicionamento dos seus constituintes, uma vez que estes se amontoam num ritual em que as palavras de ordem são, entre outras, “Despacha lá isso, palhaço” ou “esta merda não anda nem por nada”. Os locais mais emblemáticos deste tipo de fila são, no nosso país, as já lendárias Repartições de Finanças.

Fila única – como o próprio nome indica, trata-se de uma fila em estado puro, isenta de variações. Esta é uma espécie cujo habitat natural se situa na Quinta da Marinha. Poder-se-á falar em fila única quando, por exemplo, José Castelo Branco se encontra sozinho no seu quarto. Outra variante linguística para esta vertente é, simplesmente, "bicha".

Espero, caríssimo leitor, que esta minha exaustiva exposição lhe possa ter sido útil. Agora, infelizmente, vou ser obrigado, apressadamente, a despedir-me. Já há quem faça fila para, incompreensivelmente, me agredir de forma selvática. O que não é, necessariamente, mau. Desde que – como é óbvio – não façam fila única.

Pedro Chagas Freitas, co-autor da coluna EmpreenLer, escreve. Há alturas, porém, em que consegue arranjar tempo para viver. Felizmente para o bem-estar de quem o rodeia, esses momentos são cada vez mais raros. Mais informações em www.pedrochagasfreitas.pt.vu
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