2008-11-11

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Empenho
Por Natália Barbosa

Todos os anos, a análise do desempenho das instituições de ensino, em particular das escolas públicas, é, em parte, baseada nos resultados obtidos em provas nacionais de avaliação. Este ano lectivo não deverá ser excepção. Também não deverá ser um ano excepcional no que se refere à discussão dos factores explicativos para a variabilidade de resultados obtidos. Recorrentemente, são apontados factores socio-económicos como os principais determinantes do desempenho académico dos alunos. Basicamente, analisa-se o desempenho como sendo o resultado de uma função de produção em que os factores produtivos são as características socio-económicas dos alunos, famílias, escolas e regiões onde os alunos se inserem.

Não negligenciando a relevância desses factores, é importante não esquecer um importante factor produtivo; o empenho e esforço de cada aluno. A não inclusão deste factor na explicação do desempenho remete-nos para uma análise em que o sucesso de cada aluno está predeterminado pelas condições socio-económicas do meio onde ele se insere. Dito de outra forma, dadas essas condições o empenho e esforço de cada aluno são tidos como incapazes de aumentar o desempenho académico que já se antecipava. Ora isto não é verdade.

Recentemente, esta questão foi analisada para um conjunto de alunos de uma universidade americana. As horas de estudos foram usadas como indicador do esforço e empenho de cada aluno. Dado que este indicador pode ser influenciado pelas características socio-económicas de cada aluno, os autores do estudo usaram uma forma indirecta e curiosa de medir horas de estudo. Dado que as horas dedicadas ao estudo estão dependentes da dispersão que os colegas de quarto podem induzir uns nos outros, os autores mediram essa dispersão (e indirectamente, horas de estudo) com base na disponibilidade ou não de consolas de jogos nos quartos.

As conclusões não surpreenderam. Mesmo considerando as condições socio-económicas, o esforço e empenho de cada aluno determinavam significativamente o seu desempenho académico. As decisões que alunos vão tomando durante o ano lectivo, nomeadamente a afectação do tempo entre estudo e lazer, parecem ser mais importantes na determinação do desempenho académico do que as suas características socio-económicas. Assim, conclui-se que o esforço e empenho compensam e que o desempenho académico não está predeterminado à partida. Como tal, será importante incorporar esta perspectiva na análise do desempenho dos alunos e instituições de ensino.

Natália Barbosa é Professora Associada no Departamento de Economia da Universidade do Minho. É Ph.D. in Economics pela The University of Manchester, Reino Unido. As suas áreas de interesse são dinâmica empresarial e investimento directo estrangeiro. Para além de artigos de divulgação que versam estes tópicos, tem trabalhos publicados em revistas científicas internacionais.

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