2010-08-31

Lá vai ela, formosa e segura

Não tive (ainda) a oportunidade de ver a exposição "Lá vai ela, formosa e segura" que decorre no Museu do Design e da Moda, em Lisboa, até 24 de Outubro. Ainda assim, depois de ver o vídeo (dica da Horta das Vespas) e ler o (bom) "press-release" da coisa, não posso deixar de anotar e recomendar.

«Leonor cantada por Luís Vaz de Camões, que ia descalça para a fonte, «fermosa, mas não segura», é reinventada por António Gedeão, em 1961, e passa a ir «voando para a praia, na estrada preta. Vai na brasa, de lambreta». Animados por esta nova Leonor e embalados pela sonoridade do poema, intitulámos Lá vai ela, Formosa e Segura à exposição que apresenta a evolução da scooter, entre 1945 e 1970. Lá vai ela tem um duplo sentido. No feminino, tanto designa a scooter, ícone mediático de um tempo e de um modo de vida urbano, jovem e democrático, como também é um galanteio à nova mulher, mais emancipada e profissionalmente activa que se afirma no pós-Segunda Guerra, já segura e formosa, conduzindo-se a si própria, entre o trabalho e a casa, ou em puro passeio pela sua cidade. Com esta exposição ficaremos mais conscientes da pluralidade e especificidades de cada scooter, percebendo melhor este fenómeno que cruza a Europa e os Estados Unidos. Mas é inegável que, entre todas as scooters, a Vespa ganha uma popularidade tal que a torna quase no seu sinónimo. Símbolo do bom design italiano, é hoje um clássico do século XX e um objecto de culto. Exemplo paradigmático da unidade entre a forma, de linhas modernas e orgânicas, e a nova tecnologia, a Vespa significa também o ressurgimento económico de Itália e da marca Piaggio. Económica, funcional e bela, a Vespa tem de ser olhada no âmbito do movimento global de afirmação do design italiano como factor distintivo. É a união de todas estas características, e não só a sua forma e estilo, que faz dela um excelente objecto de design, estando representada em várias colecções museológicas. Se a scooter foi protagonista das cidades reconstruídas do pós-guerra, ganha hoje um renovado alcance perante os desafios vividos nas grandes metrópoles, uma vez que pode fazer parte, juntamente com uma articulada rede de transportes públicos, de uma resposta eficaz aos problemas de tráfego, parqueamento e poluição sonora/atmosférica. A sua actualidade levou-nos a organizar esta exposição onde colocámos em diálogo as scooters com a moda, sublinhando a transformação de linhas e silhuetas, para além da alteração das formas, cores e materiais, de modo a dar maior visibilidade à evolução das mentalidades e diferentes contextos socioculturais. O piso 1 do MUDE volta a metamorfosear-se na procura de renovadas geometrias e temperaturas do espaço expositivo. Viajemos, assim, ao volante da scooter, por estes vinte cinco anos do século XX, mas com os olhos postos no futuro.»
© Vasco Eiriz. Design by Fearne.