2010-09-02

Parque das Caldas

Selecção natural
Por Vasco Eiriz de Sousa

Faz sentido olhar para as organizações com uma visão ecológica. Nesta perspectiva, um conjunto de organizações é visto como um ecossistema. Num ecossistema existem espécies que se adaptam ao ambiente em que vivem e conseguem evoluir, enquanto outras não possuem essa capacidade e se extinguem através de um processo de selecção natural.

Também no mundo empresarial, a volatilidade ambiental provoca a selecção natural. Neste contexto, a taxa de mortalidade empresarial cresce e as empresas que sobrevivem procuram minimizar as consequências da intempérie. Umas adaptam-se às circunstâncias do mercado, outras procuram posições de refúgio que as protejam, e outras procuram desenvolver novas estratégias.

A selecção natural está em curso, por exemplo, em sectores de grande importância na economia portuguesa como, por exemplo, a indústria têxtil e do vestuário, ou distribuição retalhista. No limite, a selecção natural ocorre em todos os sectores e organizações ainda que essa intensidade varie com as circunstâncias ambientais, também elas distintas entre sectores e organizações.

Uma abordagem ecológica das organizações tem a grande virtude de acentuar a importância do ambiente no percurso, posição e desempenho das organizações. Pode argumentar-se que a selecção natural, ao provocar a mortalidade das espécies mais fracas e menos adaptadas ao seu ambiente, tem o dom de libertar recursos para as espécies mais resistentes. Estas tornam-se mais fortes e adquirem capacidades acrescidas para projectos mais ambiciosos.

Por exemplo, o ensino superior português carece duma abordagem ecológica que facilite a extinção das espécies menos capazes, o fortalecimento de algumas instituições ou até mesmo o surgimento de espécies mais robustas. Só com uma rede de ensino com actores mais fortes e ligações melhor articuladas é possível competir internacionalmente. A dimensão e os recursos do país não permitem a afirmação internacional de muitas instituições, mas é importante que surjam algumas espécies com a projecção internacional necessária para provocarem um efeito de alavanca interno nas demais instituições da rede. Daí que a selecção natural pode ser benéfica para o sector como um todo.

Os processos de selecção natural podem ser socialmente dolorosos com consequências negativas no curto prazo. Mas, por outro lado, a selecção natural pode promover os ajustamentos necessários e facilitar o desenvolvimento sustentável das organizações no longo prazo. Ou seja, a selecção natural pode criar condições mais favoráveis ao desempenho e prosperidade.

Numa paisagem em que as dificuldades são recorrentes devemos ter a capacidade de interpretar não só dificuldades mas também sinais positivos e oportunidades. Neste sentido, um ambiente favorável deve criar condições para a selecção natural, permitindo a reestruturação de vários sectores. Esta selecção implica não só o encerramento de várias organizações mas também favorece integrações, fusões e outros arranjos interorganizacionais em detrimento do prolongamento artificial da sobrevivência.

Vasco Eiriz de Sousa é editor do blogue Empreender. Parque das Caldas é uma coluna sobre temas locais.
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