2011-06-24

Pequenos burgueses

Estar viciado em OLX fará mal à saúde? Imagino que tenha parecenças com o álcool, com o tabaco ou com alguma outra droga. O consumo de OLX, quer seja ao fim-de-semana ou depois do jantar, é um bom antídoto contra a televisão que debita sempre as mesmas notícias e argumentos novelísticos. Os efeitos do OLX são, contudo, incomparavelmente menos nocivos do que drogas, e do que muitas notícias e argumentos. Aliás, podem revelar-se bem mais vantajosos.

O OLX é um sítio de classificados na Internet que acompanho há anos. O seu serviço básico é gratuito e possui um conjunto de vantagens difíceis de igualar. Através do OLX já comprei uma casa, um carro e, que me lembre, um conjunto alargado de serviços e pequenos produtos, incluindo livros, consolas de jogos, videojogos, música, e uma televisão. Sem notícias e argumentos. Através do OLX também já aluguei casa e vendi carro. Com argumentos.

Uma das grandes vantagens do OLX é a enorme variedade de categorias de produtos e serviços, tornando-o numa boa fonte de pesquisa para procurar e oferecer bens. Por exemplo, se o leitor entra na página inicial depara-se com oito grandes categorias, incluindo, entre outros, compra-venda, cursos-aulas, imóveis, serviços, e empregos. De entre estas oito categorias, frequento sobretudo a compra-venda.

Há momentos em que a consulta deste sítio se torna aliciante, viciante mesmo. Porque é deveras curioso ver o que cada um oferece ou procura, e a forma como o faz. E, claro, também lá tenho vários anúncios de compra e venda, incluindo a procura de álbuns raros de banda desenhada.

Provavelmente, todos nós temos algo em casa sem uso que pode ter utilidade e valor para outros. E esse valor e utilidade pode ser uma alegre surpresa para quem compra e para quem vende. E comunicar, negociar é importante. Muito importante. Não só porque pode ser fonte de rendimento mas por aquilo que permite aprender com os outros. É uma forma de adquirir experiência e, como agora se diz, competências. Quais novas oportunidades. E se comprar e consumir bens como alimentos, energia, ou serviços múltiplos é um acto relativamente banal para a maioria das pessoas e famílias, porque é que não tentar também vender algo ou prestar algum serviço?

No OLX nem tudo são flores. Por exemplo, na secção de carros não é raro encontrar propostas fraudulentas. A própria empresa reconhece esse risco e para além de alertar os compradores contempla um mecanismo que permite às pessoas assinalar as ofertas como "esquema". Como em todo o lado, aqui também há esquemas, fraudes a que é preciso estar atento. Se encontrar um bólide a ser vendido numa qualquer ilhas a um preço miraculoso, já sabe.

Recentemente questionei Alec Oxenford, co-fundador do OLX em 2006, sobre alguns aspectos da empresa. Para além de ter ficado a saber que o crescimento anual da empresa em todo o mundo ronda os 90 por cento, Alec Oxenford, que gere a empresa a partir de Buenos Aires, explicou-me que o que distingue o OLX da concorrência é, para além do grande tráfego que gera, «a facilidade com que um usuário consegue publicar o seu anúncio», algo fácil de comprovar em meia-dúzia de cliques simples. Actualmente, a empresa emprega 150 pessoas, o seu sítio está presente em 90 países e possui mais de 130 milhões de visitas por mês.

Não sei se o OLX continuará a crescer como até aqui ou se lhe acontecerá como a muitas outras empresas que ficaram pelo caminho. Embora ainda curta, esta parece ser uma história de sucesso. É, para além disso, uma daquelas empresas que tem impacto no nosso dia-a-dia e gera imensas oportunidades.

Crónica publicada no Jornal de Barcelos, 15 de Junho de 2011, p. 23.
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