2015-11-30

Herdeiros de Marques

Perguntei a alguns estudantes que participaram na visita de estudo à Herdmar que identificassem algo que lhes tenha chamado a atenção na empresa. Um desses estudantes destacou que a fábrica poderia estar melhor organizada em termos de lay-out, limpeza e arrumação, e na forma como alguns operários se previnem (ou deixam de prevenir) num contexto que, é bom notar, é de grande ruído e bastante poluição como é normal na produção de cutelaria.

A mim o que mais me chamou a atenção foram, em primeiro lugar, as explicações avançadas para a localização de várias fábricas de cutelaria naquilo que conhecemos como o cluster de cutelaria das Taipas, Guimarães. E se uma dessas explicações - a da tradição secular de Guimarães na produção de armas - não me surpreendeu de todo, já as características das águas da zona como sendo adequadas para apoiar os processos produtivos mais ancestrais foi para mim uma completa surpresa. Que, apesar de tudo, vai de encontro a uma das explicações tradicionais para a aglomeração industrial: a disponibilidade de recursos endógenos num local que favorece a localização de certas atividades.

Para além disso, chamou-me a atenção a forma como um dos gestores mais novos da empresa - um jovem que corresponde à quarta geração desta empresa familiar - olha de forma mais inovadora para o negócio. Em vez de nos apresentar a empresa como uma empresa transformadora de cutelaria preferiu dizer-nos que produz «complementos de moda para a mesa». A isto não é certamente alheio o fato de Fernando Castro ter formação em gestão e interesse no marketing. Mas, se por um lado esta é uma forma inovadora de posicionar a empresa que lhe pode abrir oportunidades de negócio, não deixa também de ser verdade que, de tão vasto que pode ser o mundo dos complementos de moda, esta pode ser também uma visão perigosa do negócio pelo potencial de diversificação, porventura excessiva, que este posicionamento acarreta.


Complementos de moda para a mesa produzidos na Herdmar.

De resto, anotei que a empresa exporta um valor de aproximadamente 90 por cento do seu volume de negócios, volume este que ronda os cinco milhões de Euros. Possui uma capacidade de produção que ronda as 150 mil peças por dia e emprega pouco mais de 100 pessoas. Anotei ainda que 2015 está a correr deveras bem com um crescimento acentuado das vendas, sobretudo impulsionado pelo mercado externo. Os principais mercados são europeus, embora a empresa reclame a presença em 65 países. Entre os seus clientes foi destacada a Zara Home com um peso na casa dos 10 por cento do volume de negócios, indiciando uma concentração de clientes bem inferior do que aconteceu no passado.


Captura do livro comemorativo dos 100 anos da Herdmar.

A terminar vale a pena assinalar que a Herdar foi fundada em 1911 por Manoel Marques, tendo-nos sido oferecido um bonito livro, ricamente ilustrado, que assinalou os «100 anos de paixão de uma família» comemorados em 2011.

A propósito, vale a pena registar que a marca Herdmar resulta da expressão Herdeiros de Marques. E é precisamente a terceira geração da família que está à frente dos destinos da empresa, assistindo, como se disse, à progressiva chegada da quarta geração. Certamente a preparar os próximos 100 anos desta interessantíssima empresa que valeu a pena visitar.


Captura do livro comemorativo dos 100 anos da Herdmar.
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