2014-09-24

Há um século

Avaliar um romance ao fim do primeiro capítulo pode ser um exercício precipitado. Sobretudo quando nos esperam largas centenas de páginas pela frente. Em todo o caso, as primeiras páginas da trilogia que toda a gente já leu cativam o leitor. Como é apanágio em muita da ficção britânica, aqui respira-se luta de classes em cada suspiro, em todos os poros. Suspeita-se do que aí vem mas fica-se na expectativa e aguardam-se surpresas. Mas, como dizia, há algo de sedutor no relato da vida da criança que está no centro destas páginas iniciais. Era assim, naquele tempo e naquele lugar: no dia do seu 13.º aniversário, dia imediatamente a seguir a ter terminado a escola, no longínquo 22 de junho de 1911, Billy levanta-se às quatro da manhã e tem o seu primeiro contacto com uma nova vida, uma vida dura, a de aprendiz de mineiro num lugarejo no País de Gales. Como eram diferentes aqueles tempos e como, apesar de tudo, as relações humanas permanecem idênticas em muitos valores e comportamentos. Afinal de contas, um século não é assim tanto tempo.
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