2008-01-28

O rabo entre as pernas

Estou a pensar seriamente abrir uma nova linha de investigação nos meus trabalhos sobre estratégia empresarial e propor uma nova teoria de internacionalização. A minha observação da realidade é simples e baseia-se em factos inequívocos. No séculos XIX e XX, sempre que um português partia para o Brasil levava os bolsos bem vazios e normalmente trazia-os cheios. Agora, em pleno século XXI, há por aí muitas empresas que vão para o Brasil de bolsos bem cheios (embora o capital não saia do bolso dos gestores que as governam), fazem aquisições e grandes investimentos e passado uns anos regressam de bolsos vazios. O fenómeno, por paradoxal que parece, não é assim tão raro e merece reflexão. Eis um caso exemplificativo duma dessas empresas que mete água: «A aventura de internacionalização para o Brasil custou mais de 100 milhões de euros à Águas de Portugal (AdP). A "holding" do Estado para o sector das águas concluiu ontem o processo de venda da Prolagos à brasileira Águas Guariroba Ambiental, por cerca de 58,62 milhões de euros (151,68 milhões de reais à cotação de ontem). "Contas feitas, o projecto da Prolagos, desde o início em 1998 até agora, teve um saldo negativo superior a 100 milhões de euros para a Águas de Portugal", avançou ao Jornal de Negócios o presidente da empresa, Pedro Serra, que termina o mandato no final do ano.» (Jornal de Negócio, 18 de Dezembro de 2007). A teoria chamar-se-á Teoria da Internacionalização do Ió-ió em Desacelaração com o Rabo entre as Pernas. E, claro, são estas mesmas empresas que depois vêm para o mercado doméstico queixar-se que o preço dos seus bens é demasiado baixo! Isto é, nós que paguemos as suas aventuras internacionais.
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